23 janeiro - Falando de coisas boas e úteis, sinto em mim uma força que me conduz ao alto, a uma região mais pura e serena do que esta nossa terra; sinto um instinto, que chamaria de progressão, um desejo de aperfeiçoamento, uma forte aspiração pelo Céu. (L 5). São Jose Marello
Tempo Comum - Anos Ímpares - II Semana - Sábado
Primeira leitura: Hebreus 9,2-3.11-14
Irmãos: 2Na primeira aliança,
tinha-se construído uma tenda, a primeira, chamada o Santo, na qual se
encontrava o candelabro e a mesa dos pães da oferenda. 3Por detrás do segundo
véu estava a tenda chamada Santo dos Santos. 11Mas, Cristo veio como Sumo
Sacerdote dos bens futuros, através de uma tenda maior e mais perfeita, que não
é feita por mão humana, isto é, não pertence a este mundo criado. 12Entrou uma
só vez no Santuário, não com o sangue de carneiros ou de vitelos, mas com o seu
próprio sangue, tendo obtido uma redenção eterna. 13Se, de facto, o sangue dos
carneiros e dos touros e a cinza da vitela com que se aspergem os impuros, os santifica,
purificando-os no corpo, 14quanto mais o sangue de Cristo, que pelo Espírito
eterno se ofereceu a si mesmo a Deus, sem mácula, purificará a nossa
consciência das obras mortas, para que prestemos culto ao Deus vivo!
O autor da Carta aos Hebreus continua
a falar do sacerdócio de Cristo, da sua capacidade de ser intermediário entre
Deus e os homens, e entre os homens e Deus. A mediação de Cristo não se realiza
como no Antigo Testamento, ou seja, penetrando num lugar material, no Santo dos
Santos, onde o Sumo Sacerdote podia entrar apenas uma vez por ano.
Com Jesus, tudo muda: o culto
exterior torna-se interior porque Cristo entra uma vez para sempre no santuário
do céu oferecendo o seu Corpo santíssimo como oferenda viva e agradável a Deus,
alcançando-nos, pelo seu Sangue, a salvação. Esse Sangue é o preço do
sacrifício perfeito em que, também nós, participamos. Animado pelo Espírito,
Jesus ofereceu-Se ao Pai, dando-nos a possibilidade de também nós entrarmos na
festa do dom recíproco entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo. O novo culto
não é um conjunto de ritos exteriores, mas um movimento festivo de honra
prestada e recebida entre as Pessoas da Santíssima Trindade. Em Jesus,
realizou-se o que era impossível aos sacerdotes da antiga aliança. Por isso,
Jesus Cristo é chamado pontífice dos bens futuros (2, 5), da cidade futura (13,
14), da herança eterna prometida (9, 15).
Evangelho: Marcos 3, 20-21
Naquele temo, 20Jesus chegou a casa
com os seus discípulos. E de novo a multidão acorreu, de tal maneira que nem
podiam comer. 21E quando os seus familiares ouviram isto, saíram a ter mão
nele, pois diziam: «Está fora de si!»
COMENTÁRIO:
A presença e a atividade de Jesus
adquirem notável ressonância. Mas essa ressonância não leva necessariamente à
fé. Jesus tem de enfrentar as primeiras recusas, a começar pela dos seus
familiares que decidem tomar medidas drásticas contra os embaraços que lhes
estava a causar, pois diziam: «Está fora de si!» (v. 21). A consanguinidade não
é suficiente para criar sintonia com o Evangelho.
Jesus vive o dom total de Si mesmo
para com todos. Os seus familiares, em vez de O apoiarem e seguirem, querem
impor-Lhe bom senso, prudência humana. No fundo estamos perante a mesma questão
de sempre: ou seguir Jesus, doando-nos sem cálculos nem reservas, ou tentar
tomar conta d´Ele de um qualquer modo, como fizeram os seus inimigos, para O
vergarmos aos nossos interesses mesquinhos.
Meditação
A Carta aos Hebreus fala-nos do dom
total de Si mesmo feito por Jesus Cristo. Jesus, animado por um «Espírito
eterno, ofereceu-se a si mesmo a Deus, sem mácula» (v. 14). Cristo realizou a
oblação perfeita de Si mesmo, uma oblação bem diferente das oblações do culto
antigo, antes referido. Jesus entrou no santuário, «não com o sangue de
carneiros ou de vitelos, mas com o seu próprio sangue» (v. 12).
Oferecer coisas externas é
relativamente fácil; oferecer a si mesmo é mais difícil. Jesus mostrou-nos este
caminho: não ofertas externas, mas ofertas pessoais. Oferecer a si mesmo,
pôr-se à disposição do amor de Deus, para o serviço dos irmãos e das irmãs, até
ao ponto de pôr em perigo a própria vida, se for necessário!
Jesus pôde fazer esta oferta pessoal perfeita porque não tinha qualquer mancha,
era imaculado, perfeitamente íntegro. Por outro lado, pôde oferecer-Se a Si
mesmo porque tinha uma generosidade inspirada pelo Espírito Santo: «pelo
Espírito eterno se ofereceu a si mesmo a Deus» (v. 14).
A sua oblação transformou o sangue
derramado em sangue de aliança, em sangue que purifica e santifica. O sangue de
Cristo, graças a esta oblação, «purificará a nossa consciência das obras
mortas» e pôr-nos-á em condições de «prestarmos culto ao Deus vivo!»
Na verdade, Jesus estava «fora de si» (v. 21). S. Paulo fala-nos da «loucura da
cruz» (1 Cor 1, 18), uma loucura de amor, uma loucura fecunda. Depois de Jesus,
quantos seus discípulos foram acusados de loucos por desprezarem a sabedoria
deste mundo e se entregarem completamente à sabedoria da cruz, oferecendo-se
inteiramente a Deus e ao serviço dos irmãos.
Pensemos em Francisco de Assis, em
João de Deus. A loucura de Deus, como diz Paulo, é mais sábia que a sabedoria
racional dos homens, porque é uma loucura que vem do amor e que, portanto,
salva.
Como Cristo «se deu totalmente ao Pai» (Cst 35) assim também «Se entregou
totalmente... aos homens» (Cst 35). O que o Senhor rezou pelos apóstolos,
também o reza por cada um de nós: «Por eles Me consagro (sacrifico, ofereço) a
Mim mesmo, para que também eles sejam consagrados na verdade» (Jo 17, 19). O
Pai, em Cristo, purificando-nos com o Seu sangue, habilitou-nos para o serviço
do Deus vivo, para uma verdadeira vida de oblação (cf. Heb 9, 14), «ao Pai
pelos irmãos» (Cst 6).
«Essa vida leva-nos a procurar, cada
vez mais fielmente, com o Senhor pobre e obediente, a vontade do Pai a nosso
respeito e a respeito do mundo e torna-nos atentos aos apelos que o Pai nos
dirige através dos acontecimentos pequenos e grandes e nas expectativas e
realizações humanas» (Cst 35).
Contemplação
É pelo seu Coração que Jesus exerce
principalmente o seu sacerdócio. O salmo no-lo diz: Deus escreveu no Coração de
Jesus a lei do sacrifício novo. S. Paulo repete-o: Pela oblação
o de si mesmo, Jesus santificou-nos (Heb 10, 14). É o amor do Coração de Jesus
pelo seu Pai e por nós que inspira e dirige a sua oblação e a sua imolação.
A Igreja nos recorda na santa
liturgia: no hino do tempo pascal, Ad regias agni dapes, mostra-nos o
amor-sacerdote, ou o Coração sacerdotal de Jesus oferecendo o sacrifício
redentor: «É a caridade, é o amor-sacerdote, que derramou o sangue e imolou a
carne do divino cordeiro sobre a cruz».
«Como amava os seus, Jesus amou-os
até ao fim» (Jo13). Depois de uma vida toda de sacrifício, entrega-se aos
perseguidores e aos seus carrascos que o crucificam. «É, diz, para que o mundo
seja testemunha do amor que tenho pelo meu Pai» (Jo 14). «Amou-me, diz S.
Paulo, e entregou-se por mim» (Gl 2).
Ação
Repete frequentemente e vive hoje a
palavra:
«Pelo Espírito eterno, Cristo ofereceu-se a si mesmo a Deus» (Heb 9, 14)»
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