09 abril - Lembra-te de buscar o segredo da tua
eloqüência na caridade. (L 23) São Jose Marello
CEIA DO SENHOR
João 13,1-15
A celebração da Ceia do Senhor nos insere no tríduo da sua paixão, morte
e ressurreição, ápice do ano litúrgico. Entremos em comunhão com Jesus – que
nos amou até o fim e nos deixou os dons do sacerdócio e da Eucaristia – para
podermos imitá-lo na tarefa de libertar o mundo de suas escravidões.
1Era antes da festa da Páscoa. Jesus sabia que tinha chegado a sua hora
de passar deste mundo para o Pai; tendo amado os seus que estavam no mundo,
amou-os até o fim. 2Estavam tomando a ceia. O diabo já tinha posto no coração
de Judas, filho de Simão Iscariotes, o propósito de entregar Jesus. 3Jesus,
sabendo que o Pai tinha colocado tudo em suas mãos e que de Deus tinha saído e
para Deus voltava, 4levantou-se da mesa, tirou o manto, pegou uma toalha e
amarrou-a na cintura. 5Derramou água numa bacia e começou a lavar os pés dos
discípulos, enxugando-os com a toalha com que estava cingido. 6Chegou a vez de
Simão Pedro. Pedro disse: “Senhor, tu me lavas os pés?” 7Respondeu Jesus:
“Agora, não entendes o que estou fazendo; mais tarde compreenderás”. 8Disse-lhe
Pedro: “Tu nunca me lavarás os pés!” Mas Jesus respondeu: “Se eu não te lavar,
não terás parte comigo”. 9Simão Pedro disse: “Senhor, então lava não somente os
meus pés, mas também as mãos e a cabeça”. 10Jesus respondeu: “Quem já se banhou
não precisa lavar senão os pés, porque já está todo limpo. Também vós estais
limpos, mas não todos”. 11Jesus sabia quem o ia entregar; por isso disse: “Nem
todos estais limpos”. 12Depois de ter lavado os pés dos discípulos, Jesus
vestiu o manto e sentou-se de novo. E disse aos discípulos: “Compreendeis o que
acabo de fazer? 13Vós me chamais Mestre e Senhor, e dizeis bem, pois eu o sou.
14Portanto, se eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar
os pés uns dos outros. 15Dei-vos o exemplo, para que façais a mesma coisa que
eu fiz.
REFLEXÃO
A Páscoa é o centro da vida e da fé
dos cristãos. Trata-se da passagem da morte para a vida, da ausência para a
presença, do Amor em plenitude.
Para nós cristãos, a celebração da
“Páscoa” constitui-se num tríduo celebrativo, isto é, a “páscoa celebrada em
três dias”. O tríduo se fundamenta na unidade do mistério pascal de Jesus
Cristo, que compreende sua paixão, morte e ressurreição. Segundo o Missal
Romano, “o Tríduo pascal, começa com a Missa vespertina da Ceia do Senhor, possui
seu centro na Vigília Pascal e encerra-se com as Vésperas do domingo da
Ressurreição” (N. 19). Deste modo, celebramos de quinta para sexta-feira a
“Paixão”, de sexta-feira para sábado a “Morte”, e de sábado para domingo a
“Ressurreição”.
Hoje, Quinta Feira Santa, na
celebração da “Última Ceia” Jesus revelou o seu “Amor em Plenitude” lavando os
pés dos discípulos e repartindo com eles o pão. O amor torna-se presente nas
mãos que lava os pés e no pão que é repartido.
Estamos diante de um Jesus que manifesta
um gesto de serviço e profunda humildade. Mas, sobretudo, é um gesto de
verdadeiro Amor: Sabendo Jesus que chegava a hora de passar deste mundo ao Pai,
depois de ter amado os seus do mundo, amou-os até o extremo.
As mãos simbolizam ação, dinamismo.
Através das mãos recebemos e doamos. João afirma, no Evangelho, que Jesus é
consciente de que o Pai entregou em suas mãos o verdadeiro Amor e, antes de
voltar ao Pai, precisa doar com suas próprias mãos este Amor aos seus
discípulos: “…sabendo que o Pai havia posto tudo em suas mãos, que tinha saído
de Deus e voltava a Deus, se levanta da mesa, tira o manto e, tomando uma
toalha, cinge-a. A seguir, põe água numa bacia e começa a lavar os pés dos
discípulos e a secá-los com a toalha que tinha cingido” (Jo 13,3-5).
Analisando o contexto histórico
constatamos que oferecer ao hóspede água para lavar os pés da poeira do caminho
era um gesto de cortesia muito comum. Normalmente esse gesto era feito por um
servo ou por um discípulo dedicado ao seu mestre. Jesus inverte os papéis e
surpreende a todos. O mestre torna-se servo. A lição de serviço, humildade e
Amor é testemunhada.
Em primeiro lugar devemos sentir este
“Amor Pleno” que nos é doado através das mãos de Jesus. Mãos que lava, acaricia
e enxuga, com ternura, os pés de cada um dos discípulos, de cada um de nós… Em
segundo lugar, a ação de Jesus quer ensinar aos discípulos, e também a nós, que
é preciso fazer o mesmo: “Depois de lhes ter lavado os pés, pôs o manto,
reclinou-se e lhes disse: ‘Entendeis o que vos fiz? Vós me chamais mestre e
senhor, e dizeis bem. Portanto, se eu, que sou mestre e senhor, vos lavei os
pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Eu vos dei o exemplo, para
que façais o que eu fiz’” (Jo 13,12-15).
A atitude de serviço, humildade e
expressão de Amor, simbolizada no lava-pés, foi uma preparação para celebrar
com mais dignidade a “Ceia”, conforme disse o próprio Jesus a Pedro: “Se não te
lavar, não terás parte comigo”.
Celebrando a “Ceia” com os seus
amigos Jesus inaugura a “Nova Páscoa”, isto é, dá um novo sentido para a
“Páscoa” que, em seu contexto histórico, era a maior festa do ano para os
judeus. Mantendo seu ritual como no AT (Ex 12), Israel celebrava a Páscoa para
fazer memória da “antiga libertação do Egito” e atualizar “os benefícios de
Deus” para com os seus filhos.
Na carta aos coríntios, Paulo
transmite o novo e definitivo sentido da Páscoa. Afirma o apóstolo: “O Senhor,
na noite em que era entregue, tomou o pão, dando graças o partiu, e disse:
‘Isto é o meu corpo que se entrega por vós. Fazei isto em memória de mim’”
(ICor 11,23-24).
No pão repartido Jesus entrega seu
corpo aos discípulos. Trata-se de uma doação total. No pão está presente o
“Amor em Plenitude”. Este Amor que se doa provoca transformação. Agora não é
apenas uma transformação social, mas uma libertação do pecado, resgate para uma
vida nova.
Quando repartimos o pão na celebração
da eucaristia, devemos sentir o Amor de Jesus que se doa em plenitude. Amor que
alimenta e revigora a nossa vida. Amor que nos compromete com os irmãos e
irmãs. Amor que nos faz ser fiéis à vontade do Pai.
Jesus pede aos discípulos: “Fazei
isto em memória de mim” (ICor 11,24b.25b). O pedido de Jesus aos discípulos
estende-se também a todos nós. Portanto, hoje celebramos o Amor presente no pão
que se reparte e nos comprometemos em vivê-lo plenamente.
A liturgia da Quinta-feira Santa é um
convite a aprofundar concretamente no mistério da Paixão de Cristo, já que quem
deseja seguí-lo deve sentar-se à sua mesa e, com o máximo recolhimento, ser
espectador de tudo o que aconteceu na noite em que iam entregá-lo. E por outro
lado, o mesmo Senhor Jesus nos da um testemunho maduro da vocação ao serviço do
mundo e da Igreja que temos todos os fiéis quando decide lavar os pés dos seus
discípulos.
A Santa Missa é então a celebração da
Ceia do Senhor na qual Jesus, um dia como hoje, na véspera da Sua paixão,
“enquanto ceiava com seus discípulos tomou pão…” . Ele quis que, como em sua
última Ceia, seus discípulos nos reuníssemos e nos recordássemos d’Ele
abençoando o pão e o vinho: “Fazei isto em memória de mim” .
Assim podemos afirmar que a
Eucaristia é o memorial não tanto da Última Ceia, e sim da Morte Paixão e
Ressurreição de Jesus Cristo nosso Senhor!
Poderíamos dizer que a alegria é por
nós e a dor por Ele. Entretanto predomina o gozo porque no amor nunca podemos
falar estritamente de tristeza, porque aquele que dá e se entrega con amor e
por amor, o faz com alegria e para dar alegria.
Podemos dizer que hoje celebramos com
a liturgia (1a. Leitura) a Páscoa. Porém a da Noite do Êxodo (Ex 12) e não a da
chegada à Terra Prometida (Js 5, 10-ss).
Hoje inicia a festa da “crise
pascoal”, isto é, da luta entre a morte e a vida, já que a vida nunca foi
absorvida pela morte, mas sim combatida por ela. A noite do sábado de Glória é
o canto à vitória, porém tingida de sangue, e hoje é o hino à luta, mas de quem
vence, porque sua arma é o amor em plenitude do Deus Todo-Poderoso.
ORAÇÃO
Pai, ajuda-me a superar os esquemas
mundanos que rompem a fraternidade e me reduzem aos esquemas do pecado,
impedindo que eu me faça servidor do meu próximo. Amém.
BÊNÇÃO
Que o Senhor nos abençoe e nos
guarde. Amém!
Ele nos mostre a sua face e se
compadeça de nós. Amém!
Volte para nós o seu olhar e nos dê a
sua paz. Amém!
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