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JUNHO - É
preciso ser fortes e afáveis, como São Francisco de Sales. (S 174). São José Marello
Marcos 12,28-34
O mandamento mais importante - Mc 12,28b-34
Então um escriba aproximou-se de Jesus e perguntou:
“Qual é o primeiro de todos os mandamentos?” Jesus respondeu: “O primeiro é
este: ‘Ouve, Israel! O Senhor nosso Deus é um só. Amarás o Senhor, teu Deus, de
todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu entendimento e com toda
a tua força!’ E o segundo mandamento é: ‘Amarás teu próximo como a ti mesmo!’
Não existe outro mandamento maior do que estes”. O escriba disse a Jesus:
“Muito bem, Mestre! Na verdade, é como disseste: ‘Ele é o único, e não existe
outro além dele’. Amar a Deus de todo o coração, com toda a mente e com toda a
força, e amar o próximo como a si mesmo, isto supera todos os holocaustos e
sacrifícios”. Percebendo Jesus que o escriba tinha respondido com inteligência,
disse-lhe: “Tu não estás longe do Reino de Deus”. E ninguém mais tinha
MEDITAÇÃO
A crítica que Jesus faz à hermenêutica bíblica
dos escribas, busca deslegitimar a teologia subjacente que condena e discrimina
os pobres, as mulheres, os estrangeiros, os enfermos. Considerados impuros, sua
condição social é ainda mais precária e desumana. Não somente são pobres, mas
são considerados impuros, ou seja, excluídos da comunhão social judaica
tornando ainda mais pesada sua dor e seu sofrimento, pois para perder esta
"impureza" deviam pagar uma oferenda ao Templo e aos sacerdotes.
Romper este “jugo ideológico” será um dos objetivos propostos por Jesus quando
entra em controvérsia com escribas e fariseus. No evangelho de hoje, o escriba
se dirige a Jesus de forma interrogativa, talvez esperando dele um progresso no
terreno do conhecimento, mas Jesus o convida a sair do mundo dos “saberes” e
lhe abre a possibilidade de centrar sua vida na única coisa que importa.
Temos nesta narrativa de Marcos um caso único de
diálogo de um escriba com Jesus, sem atritos. Os escribas eram intelectuais,
minuciosos conhecedores dos textos da Lei. Este que dialoga com Jesus chega a
afirmar que o amor a Deus e ao próximo supera todos os holocaustos e
sacrifícios. Reconhece, assim, os dois maiores mandamentos. Jesus, então,
afirma que ele não está longe do Reino de Deus.
Por seus detalhes, esta narrativa assemelha-se à
cena do jovem rico, ao qual apenas faltou dar tudo aos pobres e seguir Jesus.
Com isso se percebe que ao escriba faltava romper com as doutrinas e
observâncias legais e desapegar-se de suas riquezas. A expressão de nossa
adesão ao amor de Deus não é o culto religioso, mas sim o amor concreto e
solidário ao nosso próximo.
Quando um dos escribas pergunta a Jesus sobre o
primeiro mandamento, tenta arrastar Jesus a seu “campo” onde é especialista e
ali então quebrar sua “popularidade” e sua autoridade. Mais de seiscentos
mandamentos requer certa profissionalização jurídica. O escriba quer saber se
Jesus é um "perito" naquilo que todo judeu ortodoxo — muito mais se
se trata de um mestre — deve ser, no conhecimento, interpretação e cumprimento
da Lei.
Jesus responde que há dois, vinculando assim
experiência teológica (amarás a Deus…) e social (e a teu próximo…). Sua
resposta não é dirigida a ampliar seus conhecimentos, mas a provocar nele uma
mudança de vida... O Reino continua se aproximando também de nós quando
aceitamos que ao amor não se chega pelo caminho das generalidades, mas por meio
da realidade tangível e concreta dos fatos.
Quando o escriba considera acertada a resposta,
dentro de um contexto pós-pascal conflitivo entre judaísmo e cristianismo, o
relato quer ressaltar um princípio comum, mas também uma diferença — ”Não estás
longe do reino de Deus”. Contudo, esta é a base permanente de unidade entre
judaísmo e cristianismo. A diferença está na maneira de entender quem é Deus,
quem é Israel, quem é o próximo e aplicar suas conseqüências.
O diálogo se fecha quando se afirma a primazia
da vida humana junto com a adoração a Deus. Tal afirmação constitui o ponto de
contraste com o desenvolvimento dos acontecimentos posteriores. Paradoxalmente,
a teologia que afirma a primazia da vida humana é a mesma que legitimará a
morte de quem reivindica a primazia da vida humana, crendo defender a primazia
da adoração a Deus.
Contra uma prática da religião meramente
externa, fria e legalista, como era a dos escribas e fariseus, Jesus ensina que
na verdadeira religião o amor é que tem a primazia, tanto na relação com Deus
como com o próximo. Reconhecer isso, como fez o escriba, é já estar próximo do
Reino de Deus.
Religião é re-ligação, é Deus chamando o homem
para comunhão consigo ou é o homem tentando se auto-preencher, abafando o
chamado interior. O homem tem dentro de si um vazio que só é preenchido por
Deus. Deus o criou assim, deixando um espaço para comunhão com o ser humano.
Mas quando Adão pecou, em suma, disse a Deus: "Não o quero em minha
vida." Desde então o homem vem tentando preencher esse vazio, que o
incomoda, para que se sinta em paz.
Entretanto, quando se acentua somente o amor a
Deus, cai-se no espiritualismo ou no descuido com o próximo, aparecendo todo
tipo de mecanismos e sofismas alienantes, como o excessivo apego ao culto (AT),
o excesso de devoções carentes de fundamento.
Essa atitude foi a luta constante da corrente
deuteronomista e dos profetas, e é o que também Jesus denunciará; mas se o
acento principal recair somente no amor ao próximo, as atitudes podem ser muito
bonitas, podem, por exemplo, surgir todo tipo de “ajudas” materiais e
econômicas para os pobres, mas não passarão de simples filantropia que logo desembocará
em assistencialismo e no sentimento estéril de unicamente ter pena dos outros,
mas sem nenhum compromisso efetivo e ativo para lutar contra tudo que gera
injustiça e desigualdade.
O critério de Jesus é, então, combinar ambos os
mandamentos, os dois amores, de tal forma que um seja o termômetro do outro e,
sobretudo, buscando que quem escolhe levar a cabo o cumprimento de ambos os
mandamentos seja cada dia mais humano, mais fraterno, mas solidário, e mais
filho de Deus e irmão dos outros.
No entanto, pô-lo em prática é que é de fato
entrar no Reino. Evitemos o perigo da mecanização da nossa vivência da fé. Que
ela não se reduza a uma prática litúrgica na qual estamos presentes de corpo,
mas não de espírito. Tal atitude não pode deixar de ter sérias conseqüências
para as nossas vidas.
As palavras de Jesus, hoje, trazem-nos a
essência, o centro do que é ser Cristão: Amar a Deus e amar o próximo. Nestes
dois mandamentos se resumem o que deve ser um cristão e o que deve ser a
comunidade cristã. São estas as únicas leis que um cristão deve seguir: amar a
Deus e amar ao próximo. E estas duas vêem juntas, são um único mandamento, o
mandamento do amor que vem de Deus e nos faz amá-Lo em resposta, mas também o
próximo, como diz a carta de João: «Nós amamos, porque Deus nos amou primeiro.
Se alguém diz que ama a Deus, mas tem ódio ao seu irmão, é um mentiroso. De
fato, aquele que não ama o seu irmão, a quem vê, como pode amar a Deus, a quem
não vê? O mandamento que Jesus nos deixou é este: aquele que ama a Deus deve
também amar o seu irmão.» Quem assim o conseguir fazer na sua vida, será um
verdadeiro cristão, um fiel verdadeiro, se a comunidade cristã fizer isso, será
verdadeiramente Igreja.
Nada disto é novo para nós pois sabemos que o
grande e único mandamento que Jesus trouxe é o do Amor. A resposta que Jesus dá
ao Fariseu, não terá sido novidade também para ele. Jesus não terá sido o único
do seu tempo a dizer que toda a Lei (Torah) e os profetas mais não fazem do que
exemplificar, desenvolver o fundamental, o central que é amar a Deus e ao
próximo. Só em relação ao próximo, na Lei (Torah), existem mais de 50
mandamentos.
O próprio apóstolo Paulo, um judeu fariseu de
formação o diz na sua carta aos romanos: «A ninguém fiqueis devendo coisa
alguma, a não ser o amor recíproco; porque aquele que ama o seu próximo cumpriu
toda a lei. Pois os preceitos: Não cometerás adultério, não matarás, não
furtarás, não cobiçarás, e ainda outros mandamentos que existam, eles se
resumem nestas palavras: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.
A caridade não pratica o mal contra o próximo.
Portanto, a caridade é o pleno cumprimento da lei.». E, quanto ao mandamento de
amar a Deus, ele aparece no texto talvez mais lido e sabido de cor pelos
judeus: « Ouve, ó Israel! O Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. Amarás o
Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todas as tuas
forças. Os mandamentos que hoje te dou serão gravados no teu coração. Tu os
inculcarás a teus filhos, e deles falarás, seja sentado em tua casa, seja
andando pelo caminho, ao te deitares e ao te levantares. Atá-los-ás à tua mão
como sinal, e os levarás como uma faixa frontal diante dos teus olhos. Tu os
escreverás nos umbrais e nas portas de tua casa.» Cristãos e Judeus, temos isto
em comum: Sabemos que temos o dever de cumprir o grande mandamento de amar a
Deus e ao próximo.
Mas, o centro do texto de hoje, o que Jesus nos
vem dizer, não está no saber esse mandamento, está no compreende-lo
verdadeiramente, e sobretudo: Pô-lo em prática.
Em
relação à compreensão, temos de ter em atenção que Jesus usa o verbo amar num
tempo que pode ser traduzido no indicativo futuro: “amarás” ou no imperativo
presente: “Ama!”. Amar a Deus e ao próximo é simultaneamente uma tarefa para o
futuro, mas também, não podemos esquecer um imperativo presente. Há que começar
já, agora, neste momento a amar, e não esperar para começarmos amanhã. O amor
de amanhã não espera, ele começa já! É imperativo agora amar. Contudo, os
medos, as prisões, os sofrimentos fazem-nos muitas vezes adiar para o futuro
uma intenção de amar.
O
mandamento diz também para amar a Deus com todo o coração, toda a alma e todo o
entendimento. Três palavras que no original são todas femininas (alusão ao amor
de mãe). Coração, no original grego: kardia. Esta palavra não significa somente
coração, sentimento, não, ela significa o centro do nosso ser, a nossa vontade,
o nosso desejo, a nossa intenção. Amar a Deus com todo o coração, não quer
dizer amar com o sentimento, mas com o centro do nosso ser, com toda a nossa
vontade, com todo o nosso desejo, com toda a nossa intenção; Alma, no original
grego: Psyché, não quer dizer apenas alma, quer dizer vida, o que nos faz
viver.
Amar
a Deus com toda a alma é amar como respiramos, como se para nos mantermos
vivos, dependesse disso o amar a Deus. Amar a Deus é o que nos faz viver.
Entendimento, no original grego: dianoia, não quer dizer apenas entendimento,
mas também propósito, atitude. Amar a Deus com todo o entendimento, significa
amá-lo em todo o momento, em qualquer coisa que façamos, onde quer que
estejamos, significa que todas as nossas atitudes são sempre de amor, quer
estejamos ao domingo dentro da Igreja, ou ao sábado à noite com os nossos
amigos e colegas.
Quanto
a pôr em prática esta compreensão do mandamento, quem o pode cumprir
verdadeiramente? Gandhi, dizia: “Mostrem-me um Cristão e eu serei um.” Dizia
ele isto, porque não conseguia ver em nenhum que se dizia cristão a
concretização na vida do seguimento do mandamento do amor. O livro do êxodo
alerta para isso.
Quantos
se dizem cristãos e oprimem os estrangeiros, (veja-se os que criticam a
presença de estrangeiros neste país, como se nunca ninguém tivesse saído de
Brasil para tentar uma vida melhor no estrangeiro, veja-se o que estão a fazer
com aqueles que tentam entrar em território espanhol).
Quantas
vezes nós, nos portamos como usurários, e precisamente nestes tempos de crise
não temos remorsos em emprestar dinheiro com juros altíssimos sem pensarmos que
essas pessoas podem vir a ficar sem dinheiro até somente para se protegerem do
frio nas ruas úmidas das grandes capitais. Não, o amor misericordioso de Deus
com que o texto do livro do Êxodo conclui, muitas vezes não é o amor que nós
dizemos que seguimos quando dizemos que seguimos a Cristo. Sim, quem ama a Deus
e ao próximo com todo o coração, com toda a alma e todo o entendimento? Quem
amou, quem amará?
Jesus
Ama!! Jesus amou, Jesus amará, sempre!! É esta a grande novidade que o Cristão
trás dentro de si. Cristo, pela sua vida, pela sua paixão, pela sua morte,
demonstrou que é possível viver até às últimas conseqüências o amor a Deus e ao
próximo. Ele amou a Deus e ao próximo com todo o seu coração, todo o seu ser,
como toda a sua alma, toda a sua vida, com todo o seu entendimento, em todos os
momentos, mesmo na morte. E este seu amor que brotava do Pai e que vivia nele
por ação do Espírito, ele nunca desistiu dele.
Jesus
também teve medo, ao ponto de suar sangue no Monte das Oliveiras; ele também
esteve preso; ele sofreu o abandono do Pai, mas o amor, ele nunca o abandonou,
pois sabia com o todo o seu coração, com todo a sua alma e todo o seu
entendimento que vivendo esse amor que vem de Deus, jamais iria morrer, pelo
contrário, iria vencer a morte e viver para todo o sempre. E mais: Jesus com
essa obediência de vida em amor, trouxe assim, por meio da fé nele a
possibilidade de também nós participarmos dessa Vida Eterna, do Reino de Deus.
O
cristão pode de fato amar a Deus e ao próximo com todo o coração, com toda a
alma e com todo o entendimento. Disso é testemunha Paulo, nesta carta que
escreve aos Tessalonicenses. Eles são o modelo para todos os crentes da
Macedônia e Acaia. A sua fé espalhou-se por toda a parte. E ao longo da
história da Igreja, embora pareça raro, encontram-se inúmeros exemplos de
homens e mulheres, de comunidades cristãs, que viveram o mandamento do amor com
todo o coração, toda a alma e todo o entendimento. (Madre Teresa de Calcutá,
Martin Luther King, os apóstolos, irmão Roger de Taizé, aqueles que nós conhecemos:
pilares da igreja).
Temos
sentido o mesmo sentimento que Paulo pela comunidade de Tessalônica
(acolhimento de comunidade cristã-igreja). Temos sentido que em nossas vidas
temos vivido o mandamento do amor com todo o nosso coração, toda a nossa alma e
todo o nosso entendimento. Sim, é possível viver esse amor. Quando deixamos
entrar Cristo, quando deixamos que ele viva em nós, então podemos viver o mesmo
amor que ele viveu e assim participar da Vida plena, que um dia há de vir.
Amar
a Deus e amar ao próximo. Um dia, um certo doutor da Lei perguntou: E quem é o
meu próximo? E então Jesus contou a parábola do Bom Samaritano.
Que
possamos nós lutarmos enquanto seres humanos plenos de fé e também enquanto
igreja viva de Cristo, apesar dos sofrimentos, das prisões, dos medos, por
vivermos o mandamento do amor, e que pela nossa vida, em obras e também em
palavras levemos ao mundo inteiro esse mandamento do amor, para que todo o
mundo participe um dia da Vida Eterna!
Amar
é a segunda razão da nossa existência. Muitos pensam que amar consiste em
possuir algum sentimento bom em relação às pessoas. Não! Amar não é somente
sentimento, pois se assim fosse, Jesus não teria nos ordenado amar até os
nossos inimigos: “mas eu lhes digo: amem os seus inimigos e orem pelos que
perseguem vocês”. Amar é atitude, é querer fazer o bem, mesmo que a pessoa não
mereça, como o caso dos inimigos. O apóstolo João diz: “Meus filhinhos, o nosso
amor não deve ser somente de palavras e de conversa. Deve ser um amor verdadeiro,
que se mostra por meio de ações”. A Palavra de Deus deixa bem claro como
devemos amar e diz também porque devemos amar: “Nós amamos porque Deus nos amou
primeiro”; e “Cristo deu a sua vida por nós. Por isso nós também devemos dar a
nossa vida pelos nossos irmãos”.
A
Igreja existe para levar amor de Deus ao seu povo e isso é realizado por meio
de um ministério que é demonstrar o amor de Deus aos outros, atendendo suas
necessidades e curando suas feridas, em nome de Jesus. Cada vez que você está
tocando a vida de alguém com amor, está ministrando a essa pessoa.
Muitas
são as necessidades das pessoas e muitos são os modos de ir ao encontro dessas
necessidades; por isso, Deus tem dado a cada um de nós um ou mais dons para que
possamos levar o seu multiforme amor a todos. Para isso, é preciso descobrir
nossos dons espirituais e habilidades. Assim, nosso ministério será mais
eficiente e eficaz quando estivermos usando nossos dons e habilidades na área
em que nós mais nos sentimos tocados e que mais expresse nossa maneira de ser.
Como
já vimos, o mandamento do amor de Deus é complementado, já no Antigo
Testamento, pelo segundo: «Amarás o teu próximo como a ti mesmo». Por seu lado,
no Novo Testamento, o amor ao próximo aparece sempre como indissolúvel do amor de
Deus. Os dois mandamentos não são na realidade senão um só.
A
caridade fraterna torna-se, assim, o conteúdo e a realização prática de toda e
qualquer exigência moral: «Fazei-vos servos uns dos outros pela caridade,
porque toda a Lei se encerra num só preceito, que é o seguinte: amarás o
próximo como a ti mesmo». É, em definitiva, o único mandamento: «O meu
mandamento é este: que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei». «Quem não
ama o seu irmão que vê, como pode amar a Deus que não vê? ... Quem ama a Deus
ame igualmente o seu irmão». Não se podia afirmar com mais clareza que, em
substância, não há senão um único amor: o amor do próximo, porque é através do
amor ao próximo que põe em prática o amor a Deus.
Mas,
atenção! O amor ao próximo não é apenas um sentimento. É essencialmente
religioso. Não é simples filantropia. É religioso pelo seu modelo: o cristão
ama o seu próximo para imitar a Deus, que ama a todos sem distinção. Mas é
sobretudo pela sua fonte, ou seja, porque é obra de Deus em nós. Como poderíamos, de
fato, ser misericordiosos como o é o Pai celeste se o Senhor não no-lo tivesse
ensinado e se o Espírito não o difundisse nos nossos corações?
O
amor a Deus e ao próximo esta acima de qualquer outro mandamento e não pode
ficar preso e amarrado, mas circular livremente entre os irmãos como sangue nas
veias.
Não
existem cristãos bonzinhos e perfeitos. Todos nós estamos a caminho da
perfeição e se quisermos receber a eterna salvação, o primeiro passo é
reconhecermos a nossa incapacidade de fazer a vontade de Deus. Somente assim,
reconhecendo honestamente que o nosso amor é falho, reconhecendo e confessando
as nossas dificuldades, que podemos entender como precisamos da presença do
Espírito Santo em nossas vidas. Somente assim, podemos entender como precisamos
do poder e da graça de Deus para sermos salvos. Pois é somente pela graça e
pelo poder do Espírito Santo, será possível que sejamos transformados! É
somente pelo poder e pela graça do Espírito Santo de Deus que podemos ser
mudados em pessoas que amam a Deus e que amam a seu próximo.
A
questão da relação entre o amor de Deus e o amor dos homens está sempre no
centro da vida cristã. É uma questão tão clara e precisa na sua formulação
teórica quanto é problemática e instável na sua tradição prática e existencial.
Em
todas as épocas da história da Igreja, essa realidade essencial corre o risco
de ser parcialmente escondida e até distorcida, inclinando o fiel da balança
quer para um quer para o outro pólo. Hoje, por exemplo, alguns cristãos são
levados a pôr em evidência as exigências do amor fraterno sem fronteiras,
preocupando-se menos com saber em que o verdadeiro amor fraterno é «idêntico»
ao amor de Deus.
Quando
o amor ao próximo é separado do amor a Deus, pode acontecer que haja enganos
sobre as dimensões integrais do próprio amor ao próximo em si, porque
facilmente o próximo passa de sujeito a objeto e, nesse caso, o «interesse» que
o próximo merece pode nada ter a ver com o real amor, mas descair na
exploração.
Estou
convencido que, onde Deus não ocupa mais o lugar que lhe compete, começa a
perder importância também a relação para com o próximo. Frente à fome, à
injustiça e à opressão, há o risco de uma resposta de «violência que gera
violência». Para resolver os problemas causados pela superpopulação, sugere-se
uma planificação indiscriminada dos nascimentos e à adoção do aborto
legalizado. Frente à crise da família, propõe-se logo como remédio o divórcio.
Perante a inelutabilidade do fim dum doente incurável, propõe-se a eutanásia.
As
considerações feitas não impedem, porém, que se possa continuar a dizer que o
amor ao próximo requer inevitavelmente um empenho concreto no mundo e na luta
pela libertação do homem de hoje de toda a forma de escravidão...
Houve,
num passado não muito distante, uma espiritualidade e uma mística que, para
sublinhar o pólo do amor de Deus, pregou a fuga do mundo e o desprezo das
coisas do mundo; uma espiritualidade que falou duma escolha nítida entre Deus e
o mundo, arriscando-se a dilacerar o coração e a alma do cristão em dois amores
antitéticos.
Ora,
essa visão do problema não é evangélica. Os cristãos na Igreja têm a
responsabilidade de manifestar aos homens os sinais autênticos do amor que
salvou o mundo. Como «corpo» de Cristo que é, a Igreja nunca cessa de ser esse
sinal. Mas depende da fidelidade dos cristãos que esse sinal tenha significado.
O
homem moderno, mais do que o que o precedeu, aspira a uma maior paz e justiça
e, para essa finalidade, mobiliza as suas energias. Todavia, querer a justiça e
a paz significa também querer os meios necessário para as atingir. A reta
intenção e as belas palavras não bastam. É necessário fazer opções, no plano da
ação individual e coletiva, em função duma análise realística dos dados do
problema em toda a sua complexidade. Se calhar, é neste campo que se joga o
futuro da Igreja, a sua credibilidade perante o mundo e a sua fidelidade ao
Evangelho.
Para
"fechar " a nossa reflexão de hoje, colocamos duas perguntinhas bem
simples para serem respondidas, com muita lealdade, para nós mesmos:
1 - Qual sua maneira de servir ao próximo ?
2 - Em que área da vida das pessoas você leva o amor de Deus (espiritual,
emocional, física e/ou social)?
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