10 DE ABRIL – ANO B – OITAVA DA PÁSCOA
10 - Plantemos, reguemos, mas sobretudo tenhamos os olhos
constantemente fixos no grande Astro divino, do qual desce o calor benéfico da
fecundação sobrenatural. (L 29). São Jose Marello
João 21,1-14
É o Senhor! - Jo 21,1-14
Depois
disso, Jesus apareceu de novo aos discípulos, à beira do mar de Tiberíades.
[...] “É o Senhor!” [...] Jesus disse-lhes: “Trazei alguns dos peixes que
apanhastes”. [...] Nenhum dos discípulos se atrevia a perguntar quem era ele,
pois sabiam que era o Senhor. Jesus aproximou-se, tomou o pão e deu a eles. E
fez a mesma coisa com o peixe. Esta foi a terceira vez que Jesus, ressuscitado
dos mortos, apareceu aos discípulos.
O evangelista João nos
apresenta, no final de sua obra, um dos mais lindos e emotivos relatos de
aparição do Ressuscitado (Jo 21,1-14): Aos discípulos que já não se encontram
em Jerusalém porque fugiram da repressão, Jesus se lhes aparece como sinal de
que ainda seu projeto continua vigente e é de vital importância para os seres
humanos e que sua morte não significou um fracasso. A princípio, parece que sua
lembrança havia desaparecido; depois, quando o descobrem, se surpreendem
grandemente. Quem descobre que se trata de Jesus é precisamente João, o
discípulo amado. A aparição de Jesus faz renascer a fé de seus discípulos, faz
com que recuperem o tempo perdido e comecem a pensar como irão se organizar
novamente; entendendo que nesse momento, estão dedicando sua vida unicamente
para manter sua subsistência.
O Ressuscitado
aparece a seus discípulos num dia comum e eles não o reconhecem apesar de Jesus
ter-lhes falado. Alguns dos apóstolos estiveram pescando durante toda a noite,
como fazem tantos pescadores mundo afora, e voltam com as redes vazias. Entre a
bruma do amanhecer, já perto da praia, ouvem e vêem um desconhecido que lhes
pergunta pela pesca. Tendo dado uma resposta desanimada, recebem a sugestão de
novamente lançar as redes ao outro lado da barca, com tanto êxito que quase não
podiam arrastá-las, depois de apanhar uma enorme quantidade de peixes. É a
pesca milagrosa que são Lucas havia relatado como um episódio pré-pascal, no
contexto da vocação dos primeiros discípulos (Lc 5,1-11), e que aqui, no 4o.
evangelho, aparece como um milagre pós-pascal num contexto também vocacional:
os apóstolos na barca, as redes, a pesca abundante, são símbolos tradicionais
da tarefa evangelizadora da igreja ao longo de todos os séculos.
Quando o
desconhecido da praia é identificado pelos apóstolos, e quando se reúnem com
ele, encontram já a comida preparada: o fogo, o pão, o peixe assado. Jesus lhes
convidou para comer dos peixes, cuja pesca havia sido muito abundante.
Posteriormente, os gestos e as palavras pronunciadas dão a sensação de que
estivesse fazendo alusão à eucaristia, pela forma de partilhar a refeição
unidos: Jesus tomou o pão e distribuiu-o por eles. E fez a mesma coisa com o
peixe. O Ressuscitado reitera os gestos da eucaristia: partir o pão e
reparti-lo. Acontece que a igreja se reúne ao redor do Senhor ressuscitado, a
sua eucaristia, para ser enviada a pescar nos mares do mundo. Pescar filhos e
filhas de Deus, que queiram servir aos demais como a irmãos, que queiram dar
testemunho do amor de Deus a todos os seres humanos.
A metáfora da pesca
foi sempre na comunidade cristã um motivo continuo de reflexão. Lembra a
primeira experiência da Galiléia quando os primeiros discípulos receberam o
chamado e se começou a formar o primeiro grupo de discípulos e discípulas. Após
a ressurreição Jesus convoca a comunidade e a alimenta, dando-lhe força para
prosseguir com a tarefa apostólica. A tarefa que nessa época lhes havia
encomendado continua crescendo sob a direção e apoio do Mestre. Eles o
reconhecem ao compartilhar a refeição do trabalho diário.
Deste modo, o
evangelho de João junta dois motivos que, apesar de sua distância no tempo,
concentram todas as verdades que os cristãos haviam compreendido por sua
experiência pessoal e comunitária no ressuscitado. João não se contenta com
esta lembrança e faz uma segunda referência à época quando foi escrito o
evangelho ao nomear o peixe e o pão. O peixe havia se convertido no símbolo do
cristianismo no final do primeiro século. Os cristãos viviam em pequenas
comunidades quase no anonimato. A cruz ainda não havia ganhado seu lugar como
símbolo da redenção. Os cristãos, então, apelavam aos símbolos do evangelho
como o pastor de ovelhas, o pescador e o peixe. A palavra peixe na língua grega
era utilizada como acróstico do anúncio fundamental dos primeiros cristãos. Com
esta palavra comunicavam os aspectos essenciais do mistério de salvação.
Para renascer, a
comunidade cristã haverá de ser animada por Jesus e seu Espírito, que se
tornarão manifestos em cada ato comunitário. Jesus, a pedra fundamental,
rejeitada por muitos e aceita por tantos, continua caminhando com sua
comunidade nas tarefas do dia-a-dia e realizando gestos de partilha e
solidariedade. O renascimento da Igreja deixa de ser então um capricho ou um
simples esforço humano: é uma obra de Deus mesmo, que nos tira da vida
ordinária em que estamos, nos sacode, para fazer-nos entender e assumir nosso
papel no plano de Deus, o projeto que Jesus nos apresentou. A Igreja é fruto do
querer de Deus que contradiz os interesses humanos para colocar o Ressuscitado
na alma daqueles que o seguem, fazendo com que se sintam irmãos de verdade.
Estas festas pascais
que estamos celebrando não podem ficar só nos aleluias. Devem despertar em nós
um intenso desejo de comunicar a outros a nossa fé, nossa alegria, o gozo de
saber que fomos salvos em nome de Jesus e convocados ao redor da ceia fraterna
para testemunhar no mundo a possibilidade de todos poderem viver como irmãos.
Por isso, sabendo que não há outro nome debaixo do céu pelo qual podemos ser
salvos, invoquemos o nome do Senhor Jesus sobre cada um dos nossos irmãos que
luta pela vida.
Oração: Senhor Jesus, nossa única esperança,
também nós, muitas vezes, nos descobrimos de mãos vazias; recebei o pouco que
temos e somos e, em troca, dai-nos a vossa própria vida. Que a Sua presença
reforce a comunhão com nossos irmãos e irmãs de fé, a fim de podermos atrair
para Vós muitas outras pessoas de boa vontade. A Vós o louvor e a bênção pelos
séculos dos séculos. Amém.
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