19 julho - O demônio pode intrometer-se de mil modos, até com aparência de favorecer os interesses de Jesus: o único e infalível controle é a obediência. (L 76). SÃO JOSE MARELLO
Leitura do santo Evangelho segundo São Mateus 13,24-43
"Jesus apresentou-lhes outra parábola: "O Reino dos Céus é como alguém que semeou boa semente no seu campo. Enquanto todos dormiam, veio seu inimigo, semeou joio no meio do trigo e foi embora. Quando o trigo cresceu e as espigas começaram a se formar, apareceu também o joio. Os servos foram procurar o dono e lhe disseram: 'Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? Donde veio então o joio?' O dono respondeu: 'Foi algum inimigo que fez isso'. Os servos perguntaram ao dono: 'Queres que vamos retirar o joio?' 'Não!', disse ele. 'Pode acontecer que, ao retirar o joio, arranqueis também o trigo. Deixai crescer um e outro até a colheita. No momento da colheita, direi aos que cortam o trigo: retirai primeiro o joio e amarrai-o em feixes para ser queimado! O trigo, porém, guardai-o no meu celeiro!'" Jesus apresentou-lhes outra parábola ainda: "O Reino dos Céus é como um grão de mostarda que alguém pegou e semeou no seu campo. Embora seja a menor de todas as sementes, quando cresce, fica maior que as outras hortaliças e torna-se um arbusto, a tal ponto que os pássaros do céu vêm fazer ninhos em seus ramos". E contou-lhes mais uma parábola: "O Reino dos Céus é como o fermento que uma mulher pegou e escondeu em três porções de farinha, até que tudo ficasse fermentado". Jesus falava tudo isso em parábolas às multidões. Nada lhes falava sem usar de parábolas, para se cumprir o que foi dito pelo profeta: "Abrirei a boca para falar em parábolas; vou proclamar coisas escondidas desde a criação do mundo". Então Jesus deixou as multidões e foi para casa. Seus discípulos aproximaram-se dele e disseram: "Explica-nos a parábola do joio!" Ele respondeu: "Aquele que semeia a boa semente é o Filho do Homem. O campo é o mundo. A boa semente são os que pertencem ao Reino. O joio são os que pertencem ao Maligno. O inimigo que semeou o joio é o diabo. A colheita é o fim dos tempos. Os que cortam o trigo são os anjos. Como o joio é retirado e queimado no fogo, assim também acontecerá no fim dos tempos: o Filho do Homem enviará seus anjos e eles retirarão do seu Reino toda causa de pecado e os que praticam o mal; depois, serão jogados na fornalha de fogo. Ali haverá choro e ranger de dentes. Então os justos brilharão como o sol no Reino de seu Pai. Quem tem ouvidos, ouça."
Meditação:
Mateus, conforme o estilo catequético de
seu evangelho, reúne no capítulo 13 uma coletânea com sete parábolas. No trecho
de hoje, temos três delas, sendo a parábola do trigo e do joio explicada no
estilo de uma alegoria.
A parábola do joio e do trigo destaca que a
missão não está em combater o inimigo, mas em cultivar os valores do Reino.
Fica removida, assim, a obsessiva idéia do "inimigo", muito presente
no Primeiro Testamento, de modo particular nos Salmos.
As parábolas do grão de mostarda e do
fermento fortalecem os discípulos na esperança. As duas são elaboradas a partir
de imagens do ambiente familiar: um homem em seu campo e uma mulher em sua casa
preparando o pão.
A parábola do joio no meio do trigo
continua o tema da parábola do semeador. Lá se afirmava o absoluto êxito da
justiça que faz surgir o Reino, apesar dos tropeços. Aqui Jesus critica a
pressa dos discípulos e das comunidades cristãs em querer separar bons e maus,
justos e injustos. Pode-se dizer que Jesus condena a impaciência messiânica dos
discípulos. Estes, à semelhança dos fariseus e essênios, pretendiam formar comunidades
“puras”, fugindo da realidade (essênios) ou considerando-se “vacinados”
(fariseus) contra as tramas e desafios da sociedade (a palavra fariseu
significa “separado”).
A parábola do joio no meio do trigo mostra
que a sociedade é um campo de semeaduras diferentes e contrastantes. O semeador
cumpre o dever de semear boa semente: é o discípulo de Jesus que continua firme
na prática da justiça (v. 27).
Contudo, no meio do terreno cresce também o
joio (a injustiça). Isso não é fruto de um dualismo absoluto, pois o inimigo
também semeia.
O inimigo são pessoas e estruturas injustas
que crescem junto com a semente do Reino. Aí reside a perplexidade das
primeiras comunidades cristãs.
Elas se perguntavam: se, de fato, Jesus é o
Deus-conosco, o mestre da justiça, como se explica o crescimento da injustiça
na sociedade? Por que ele não intervém, arrancando tudo de uma vez? (cf. I
leitura). Daí nasce o desejo de “fazer justiça com as próprias mãos”: “Quer que
arranquemos o joio?” (v. 28b).
A resposta do dono da colheita é clara: só
a Deus cabe fazer a triagem. Essa triagem não se realiza agora, mas depois (a
colheita, na Bíblia, é freqüentemente usada como símbolo do fim do mundo).
Se a separação fosse agora, correr-se-ia o
perigo de arrancar o trigo junto com o joio, pois, quando pequenos, são muito
parecidos, mas, no momento da espiga, a diferença fica evidente.
Só Jesus tem o direito de ordenar a seleção
final, cujo critério de distinção serão os frutos (prática da justiça ou
prática da injustiça). Por ora a comunidade deve esperar.
A parábola, portanto, quer transmitir esta
mensagem: a justiça que faz surgir o reino de Deus se decide num campo de
lutas, numa sociedade conflituosa. Aos discípulos de Jesus não cabe fazer
justiça com as próprias mãos e critérios. A eles compete semear…
Contudo, ficam no ar duas questões: 1. O
reino de Deus não se mostra, assim, impotente diante do mal? 2. Não existe
nenhuma possibilidade de subversão, de forma que o bem transforme o mal? As
duas parábolas seguintes tentam responder a essas questões.
Os adversários de Jesus se escandalizavam
diante da aparente impotência dele e de sua prática. Na concepção deles, o
Reino deveria ser instaurado à força.
A parábola da semente de mostarda trabalha
com os termos menor e maior: a menor de todas as sementes se torna maior de
todas as demais plantas, a ponto de abrigar em seus ramos os pássaros com seus
ninhos. Mateus diz que o grão de mostarda foi semeado no campo, e não na horta,
como em Lucas. É uma referência ao campo que é o mundo, no qual cresce o reino
de Deus.
Uma semente de mostarda num campo é a
síntese da pequenez e insignificância dos inícios da justiça que faz surgir o
Reino. Mas a semente de mostarda se torna árvore, atingindo, segundo a espécie,
quatro ou nove metros de altura! E os pássaros (que representam, aqui, as
nações) se aninham na árvore do Reino, encontrando vida e segurança. Assim será
a justiça do reino de Deus, garante Jesus. Esperem para ver sua força. Ele
sobressairá no campo e será ponto de encontro entre todos os povos!
A parábola do fermento contrapõe o pouco ao
muito, mostrando como o primeiro subverte o segundo. De fato, três porções de
farinha perfaziam cerca de 42 quilos.
O punhado de fermento é insignificante
diante de tanta farinha! O fermento some no meio dela (o texto afirma,
literalmente, que a mulher esconde o fermento na farinha), mas a transforma e
subverte completamente. Assim, afirma Jesus, é a justiça que faz surgir o
Reino. Um dia vai levantar toda a humanidade, pois tem poder de contagiar, transformar
e levantar toda a massa. A justiça do reino de Deus tem poder revolucionário.
Em Israel, fazer pão era tarefa confiada às
mulheres. E o faziam todos os dias, pois o pão era o alimento básico. O Reino,
portanto, é confiado aos pequenos, pobres e marginalizados e é compromisso
diário.
Os vv. 34-35 interrompem a seqüência das
parábolas. São um comentário do evangelista, que pretende mostrar por que Jesus
anuncia o Reino em parábolas.
Tem-se a impressão de que o povo não
entendia o sentido delas. Que função teriam, então? Mateus cita o salmo 78,2,
atribuindo-o ao profeta (no sentido de que todo o AT é profecia que leva a
Jesus ou, talvez, porque esse salmo era atribuído a Asaf, considerado profeta, (2Cr
29,30). A função das parábolas é revelar o mistério escondido anteriormente,
mas agora tornado manifesto na prática de Jesus. É nele que o Reino assume sua
verdadeira feição e forma. Aceitando-o, entra-se no Reino.
A “explicação” da parábola do joio no meio
do trigo é fruto do esforço das comunidades em olhar para dentro de si
próprias. Jesus volta para casa (v. 36), na intimidade com seus discípulos.
É hora de olhar para dentro de nós mesmos e
de nossas comunidades, pois o ambiente é outro, a própria ótica e os
destinatários da “explicação” são diferentes. A explicação acentua o contraste
entre os filhos do Reino e os filhos do diabo (cf. v. 38).
A boa semente são os filhos do Reino, ao
passo que o joio são os que fazem os outros pecar e os que praticam o mal (v.
41). Há também um deslocamento do campo de ação no mundo para o campo da
escatologia final, destacando a diferenciação de sortes: os injustos vão ranger
os dentes de raiva e desespero, ao passo que os justos vão brilhar como o sol
no reino do Pai (vv. 42-43a).
O convite final: “Quem tem ouvidos para
ouvir ouça” (v. 43b) é um apelo ao discernimento no agora da nossa história: a
vitória final pertence a Jesus e seus seguidores. Mãos à obra, portanto, para
que o Reino se manifeste mediante a prática da justiça.
Reflexão Apostólica:
Há uma inclinação
natural no ser humano para: grandeza, força, ostentação, evidência,
superioridade; entretanto, virtudes importantes como a paciência, a esperança,
a perseverança, estão muito esquecidas.
Vivemos num mundo cada
vez mais inquieto e confuso, onde tudo é descartável e tudo tem que ser feito
às pressas. Pois é, Jesus nunca se apresentou como o máximo de tudo. Pelo
contrário, apesar de todo o cansaço e perseverança que teve para evangelizar,
acabou rejeitado e condenado à morte de cruz. Isto nos responde porque os
discípulos se impacientaram e ficaram desanimados ao ver que o Reino que Jesus
acabara de instaurar não tinha conseguido eliminar o mal do mundo.
Podemos desanimar
também nós, mas devemos ficar tranqüilos, pois Deus conhece muito bem toda esta
situação pela qual o mundo e a Igreja, em particular, está passando. Mesmo
assim, ele não faz nada para mudá-la. Pelo contrário, permite tudo isso, pois o
modo de se comportar dele é diferente.
Aqui na terra as
coisas podem mesmo estar confusas: bondade e maldade, gente boa e gente má.
Para alguns, isto provoca a pergunta: onde está Deus? Por que ele não interveio
no holocausto, por exemplo?
No evangelho de hoje,
Jesus afirma que é necessário suportar esta situação aqui na terra. Nem ele
pode separar os bons dos maus, deve ter paciência e o mesmo vale para seus
discípulos. Joio (erva daninha) e trigo mostram duas realidades muito
diferentes e podem até passarem muito tempo juntas, mas serão apartadas.
Entretanto, como já
dissemos num comentário anterior, não será Deus a excluir os maus do seu Reino,
mas somos nós mesmos que com nossas escolhas, nos excluímos dele.
A expressão “fogo,
choro e ranger de dentes” nada mais é do que um simbolismo para indicar a dor e
a raiva proveniente do remorso por ter se excluído de Deus. Se nessa vida,
livremente escolhemos rejeitá-lo, isto significa que não queremos estar em
comunhão com ele na outra. E como vimos na parábola do semeador, ele respeita a
nossa liberdade.
Na verdade, a presença
do joio no campo do trigo, mesmo se os servos mostrem espanto, não é o traço
mais inesperado e surpreendente da parábola. Tanto é verdade que aos servos que
pedem explicações, o patrão responde simplesmente: “foi algum inimigo que fez
isso”. E menos surpresa é a afirmação que ao tempo da colheita trigo e joio
serão cuidadosamente separados: o trigo colhido no celeiro e o joio jogado ao
fogo.
O ponto enfático da
parábola está no fato de que o joio não deve ser arrancado agora, pois caso
contrário, há o risco (acrescenta ironicamente o patrão) de que arrancando o
joio, se arranque também o trigo.
O centro da parábola,
pois, é este: a paciência de Deus, a tolerância de Deus. No tempo de Jesus,
havia o movimento farisaico, que pretendia ser o povo santo, separado da
multidão dos pecadores. Jesus vem e faz o contrário. Não se separa dos
pecadores, mas acolhe-os. Não os abandona, mas perdoa-os. Tolera até mesmo no
círculo dos doze um traidor, e de qualquer modo, está rodeado de discípulos que
estão prontos a negá-lo e abandoná-lo. A esta altura, compreendemos toda a
força da parábola.
Há um sólido contraste
entre o pensamento de Deus (paciente e tolerante) e a intolerante rigidez de
muitos servos seus, muitas vezes nós, não somente com o nosso próximo, com a
nossa comunidade, mas também conosco, já que até dentro de nós o bem e o mal
lutam incessantemente.
Somos convidados à
paciência e à tolerância. É verdade! Às vezes, cansamos. Mas lembremo-nos que
embora nossos esforços sejam tantos e os resultados tão mínimos, só poderemos
ver a grande planta que se tornará a pequeníssima semente de mostarda e o
bonito bolo feito com fermento no final de todo processo. E, olhe, que na
maioria das vezes, nem veremos todo o resultado, mas só parte dele. Mesmo
assim, façamos o que nos pede o Senhor, se a semente e o fermento representam o
seu Reino, com toda certeza, atingirá o seu cume.
Assim, sendo nosso
coração o terreno onde a semente de Deus é plantada, tenhamos paciência e
misericórdia conosco e com o próximo.
Tenhamos muito cuidado
no modo como tratamos as pessoas, podemos colocar a perder todo um trabalho, na
tentativa apressada para eliminar o mal.
Temos que esperar o
crescimento. Se condenarmos o pecador que há no outro e em mim, há um perigo muito
grande de perdermos o que de bom há em nós e que no final é o que transbordará.
Propósito:
Pai, enche de misericórdia o meu coração para que, como Jesus, eu me solidarize com os pecadores, e procure atraí-los para ti.
Em
algum momento da vida, ocorre um encontro mais profundo e pessoal entre Deus
e você. |
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