20 fevereiro - sábado - Alegremo-nos por não terem cessado
as contradições e por não faltarem os adversários que fazem aumentar em nós a
confiança em Deus.(L 253). São
Jose marello
Amar os inimigos. - Mt 5,43-48
“Ouvistes
que foi dito: ‘Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo!’ Ora, eu vos digo:
Amai os vossos inimigos e orai por aqueles que vos perseguem! Assim vos
tornareis filhos do vosso Pai que está nos céus; pois ele faz nascer o seu sol
sobre maus e bons e faz cair a chuva sobre justos e injustos. Se amais somente
aqueles que vos amam, que recompensa tereis? Os publicanos não fazem a mesma
coisa? E se saudais somente os vossos irmãos, que fazeis de extraordinário? Os
pagãos não fazem a mesma coisa? Sede, portanto, perfeitos como o vosso Pai celeste
é perfeito.”
Meditação:
A proposta do Reino se baseia no amor. O Reino de Deus se constrói na força do amor, não na violência ou na agressividade. Quem ama é capaz de dar até sua própria vida pelos demais, perdoando inclusive o perseguidor, o que hostiliza, maltrata e o assassino. Este é o milagre do amor: o amor aos inimigos.
Essa é a proposta do Mestre. “Amar os inimigos” torna possível, no seguidor de Cristo, a relação filial com o Pai. Somente assim seremos filhos, sendo semelhantes a Jesus, e sermos misericordiosos como é Deus, nosso Pai.
O amor de Deus é aquele que passa por cima do ódio que deveríamos sentir pelos nossos inimigos: «Vocês ouviram o que foi dito: “Ame os seus amigos e odeie os seus inimigos.” Mas eu lhes digo: amem os seus inimigos e orem pelos que perseguem vocês, para que vocês se tornem filhos do Pai de vocês, que está no céu». Nestas palavras de Jesus está a perfeição do amor.
Jesus hoje nos exorta longamente para que
respondamos ao ódio com amor. Este texto, aparecendo nessa situação, ajuda-nos
a compreender, que Mateus vê no amor aos adversários, a característica
específica dos discípulos de Cristo.
As palavras de Jesus indicam duas maneiras
de viver:
A primeira é a dos que se comportam sem
referência a Deus e sua Palavra. Esses agem em relação aos outros em função da
maneira como eles os tratam, a sua reação é de fato uma reação. Dividem o mundo
em dois grupos, os amigos e os que não o são, e fazem prova de bondade só em
relação aos que são bons para eles.
A segunda forma de viver não põe em
primeiro lugar um grupo de homens, mas sim o próprio Deus. Deus, por seu lado,
não reage de acordo com a maneira como o tratam; pelo contrário, «Ele é bom até
para os ingratos e os maus» (Lc 6,35).
Jesus chama assim a atenção para a
característica essencial do nosso Deus. Fonte transbordante de bondade, Deus
não se deixa condicionar pela maldade de quem está à sua frente.
Mesmo esquecido, mesmo injuriado, Deus
continua fiel a si próprio, só pode amar. Isto é verdadeiro desde a primeira
hora.
Diferentemente dos homens, Deus está sempre
pronto a perdoar: «Os meus planos não são os vossos planos, os vossos caminhos
não são os meus caminhos» (Is 55,7-8).
O profeta Oséias, por seu lado, ouve o
Senhor dizer-lhe: «Não desafogarei o furor da minha cólera… porque sou Deus e
não um homem» (Os 11,9).
Numa palavra, o nosso Deus é misericordioso
(Ex 34,6; Sl 86,15; 116,5 etc), «não nos trata de acordo com os nossos pecados,
nem nos castiga segundo as nossas culpas» (Sl 103,10).
A grande novidade do Evangelho não é tanto
o fato de que Deus é Fonte de bondade, mas que os homens podem e devem agir à
imagem do seu Criador: «Sede misericordiosos, como o vosso Pai é
misericordioso!» (Lc 6,36).
Através da vinda do seu Filho até
nós, esta Fonte de bondade está agora acessível. Tornamo-nos, por nosso lado,
«filhos do Altíssimo» (Lc 6,35), seres capazes de responder ao mal com o bem,
ao ódio com amor.
Vivendo uma compaixão universal, perdoando
aos que nos fazem mal, damos testemunho de que o Deus de misericórdia está no
coração de um mundo marcado pela recusa do outro, pelo desprezo em relação
àquele que é diferente.
Impossível para os humanos entregues às
suas próprias forças, o amor pelos inimigos testemunha a atividade do próprio
Deus no meio de nós. Nenhuma ordem exterior o torna possível.
Só a presença, nos nossos corações, do amor
divino em pessoa, o Espírito Santo, permite amar assim. Este amor é uma
conseqüência direta do Pentecostes.
Não é em vão que Estêvão, «cheio do
Espírito Santo» termine com estas palavras: «Senhor, não lhes atribuas este
pecado.» (At 7,60)
Como Jesus, o verdadeiro discípulo faz com
que a luz do amor divino brilhe no país sombrio da violência como é o nosso
Brasil.
Este amor, longe de ser um simples
sentimento, reconcilia as oposições e cria uma comunidade fraterna a partir dos
mais diversos homens e mulheres, da vida desta comunidade sai uma força de
atração que pode agitar os corações. É este o amor que eu chamo de perfeito, o
amor que perdoa até aqueles que nos podem tirar a vida.
Reflexão Apostólica:
Pois bem, na nova Lei promulgada por Jesus, esta atitude para com o inimigo tem indubitavelmente que ser corrigida. A lei do Senhor obriga a amar o inimigo.
Aqui não há que entender como inimigo somente a quem nos faz efetivamente o mal; com muito maior razão há que incluir também a quem pensa diferente, quem professa outra fé ou religião, ao que questionam, com muita razão às vezes, nossas freqüentes ambigüidades a respeito da maneira de viver nossa fé. Com todos estes, nossa atitude não pode ser de mera indiferença ou de ignorá-los simplesmente.
Jesus nos diz – nos exige – que os amemos. E isso implica que não estamos autorizados a excluí-los de nosso projeto de construção do reino, mas que devemos contar e exercer com eles nossas atitudes de justiça, de solidariedade e de amor fraterno.
Com a exortação ao amor ao inimigo e a reconciliação, Jesus remove tal tradição religiosa. O amor do Pai, manifestado por Jesus, tem conotação universal, sem exclusões e sem limites. Não há discriminação no dom de seu Amor.
O amor aos inimigos e aos perseguidores é um desafio de Jesus que marcará a diferença entre sua proposta de vida e dos comportamentos de muitos setores da sociedade de sua época e de todos os tempos.
Os méritos de amar somente os mais próximos ficam empobrecidos ante a novidade do amor, inclusive para com aqueles que perseguem ou causam dano. Trata-se de abrir o coração amplamente e dar passagem à autêntica reconciliação.
A grande novidade do projeto cristão sustentado no amor é que tem como referente Deus Pai, que ama infinitamente a todos os seus filhos.
Em seu coração não há lugar para a desigualdade ou o rancor; pelo contrário, seu coração é como o sol que nasce igualmente para todos. Esta característica do Deus cristão não elimina o caminho da conversão; reconfigura-o com os códigos do amor e do perdão, pois somente quem se sente fortemente amado e perdoado é capaz de reproduzir amor e perdão.
Os seres humanos temos hoje à nossa frente o desafio de esvaziar tantos ódios e violências que se acumularam ao longo da história de nossos povos.
Estabelecer um novo modelo de relações será fruto, em especial, de pequenos procedimentos que envolvem a pessoa, a família, a amizade, os grupos de trabalho, as comunidades eclesiais, em experiências comunitárias de amor e em escolas de perdão.
Esse deve ser o caminho mais efetivo para que muitos vejam e creiam no Evangelho.
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