17 - Como um dia no Calvário, assim agora
nas igrejas Jesus não quer defender-se de
outra maneira senão com a força do amor,
e tolera sempre as violências dos bandidos
para ceder lugar à caridade das almas
piedosas das quais espera conforto e reparação. (L 209). São Jose marello
Leitura do santo Evangelho segundo São Mateus 5,43-48
Amar os inimigos. - Mt 5,43-48
“Ouvistes
que foi dito: ‘Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo!’ Ora, eu vos digo:
Amai os vossos inimigos e orai por aqueles que vos perseguem! Assim vos
tornareis filhos do vosso Pai que está nos céus; pois ele faz nascer o seu sol
sobre maus e bons e faz cair a chuva sobre justos e injustos. Se amais somente
aqueles que vos amam, que recompensa tereis? Os publicanos não fazem a mesma
coisa? E se saudais somente os vossos irmãos, que fazeis de extraordinário? Os
pagãos não fazem a mesma coisa? Sede, portanto, perfeitos como o vosso Pai
celeste é perfeito.”
Meditação:
O "sede
perfeitos como o Pai celeste é perfeito" é a grande síntese. Ela opõe-se a
multiplicidade de preceitos e observâncias santificadoras do Primeiro
Testamento. A prática do amor misericordioso significa participar da perfeição
do Pai celeste, em comunhão de vida com Deus e com os irmãos. A proposta do Reino se baseia no amor. O Reino de Deus se constrói na força do amor, não na violência ou na agressividade. Quem ama é capaz de dar até sua própria vida pelos demais, perdoando inclusive o perseguidor, o que hostiliza, maltrata e o assassino. Este é o milagre do amor: o amor aos inimigos.
Essa é a proposta do Mestre. “Amar os inimigos” torna possível, no seguidor de Cristo, a relação filial com o Pai. Somente assim seremos filhos, sendo semelhantes a Jesus, e sermos misericordiosos como é Deus, nosso Pai.
O amor de Deus é aquele que passa por cima do ódio que deveríamos sentir pelos nossos inimigos: «Vocês ouviram o que foi dito: “Ame os seus amigos e odeie os seus inimigos.” Mas eu lhes digo: amem os seus inimigos e orem pelos que perseguem vocês, para que vocês se tornem filhos do Pai de vocês, que está no céu». Nestas palavras de Jesus está a perfeição do amor.
Jesus
hoje nos exorta longamente para que respondamos ao ódio com amor. Este texto,
aparecendo nessa situação, ajuda-nos a compreender, que Mateus vê no amor aos
adversários, a característica específica dos discípulos de Cristo.
As
palavras de Jesus indicam duas maneiras de viver:
A
primeira é a dos que se comportam sem referência a Deus e sua Palavra. Esses
agem em relação aos outros em função da maneira como eles os tratam, a sua
reação é de fato uma reação. Dividem o mundo em dois grupos, os amigos e os que
não o são, e fazem prova de bondade só em relação aos que são bons para eles.
A
segunda forma de viver não põe em primeiro lugar um grupo de homens, mas sim o
próprio Deus. Deus, por seu lado, não reage de acordo com a maneira como o
tratam; pelo contrário, «Ele é bom até para os ingratos e os maus» (Lc 6,35).
Jesus
chama assim a atenção para a característica essencial do nosso Deus. Fonte
transbordante de bondade, Deus não se deixa condicionar pela maldade de quem
está à sua frente.
Mesmo
esquecido, mesmo injuriado, Deus continua fiel a si próprio, só pode amar. Isto
é verdadeiro desde a primeira hora.
Diferentemente
dos homens, Deus está sempre pronto a perdoar: «Os meus planos não são os
vossos planos, os vossos caminhos não são os meus caminhos» (Is 55,7-8).
O
profeta Oséias, por seu lado, ouve o Senhor dizer-lhe: «Não desafogarei o furor
da minha cólera… porque sou Deus e não um homem» (Os 11,9).
Numa
palavra, o nosso Deus é misericordioso (Ex 34,6; Sl 86,15; 116,5 etc), «não nos
trata de acordo com os nossos pecados, nem nos castiga segundo as nossas
culpas» (Sl 103,10).
A
grande novidade do Evangelho não é tanto o fato de que Deus é Fonte de bondade,
mas que os homens podem e devem agir à imagem do seu Criador: «Sede
misericordiosos, como o vosso Pai é misericordioso!» (Lc 6,36).
Através
da vinda do seu Filho até nós, esta Fonte de bondade está agora acessível.
Tornamo-nos, por nosso lado, «filhos do Altíssimo» (Lc 6,35), seres capazes de
responder ao mal com o bem, ao ódio com amor.
Vivendo
uma compaixão universal, perdoando aos que nos fazem mal, damos testemunho de
que o Deus de misericórdia está no coração de um mundo marcado pela recusa do
outro, pelo desprezo em relação àquele que é diferente.
Impossível
para os humanos entregues às suas próprias forças, o amor pelos inimigos
testemunha a atividade do próprio Deus no meio de nós. Nenhuma ordem exterior o
torna possível.
Só
a presença, nos nossos corações, do amor divino em pessoa, o Espírito Santo,
permite amar assim. Este amor é uma conseqüência direta do Pentecostes.
Não
é em vão que Estêvão, «cheio do Espírito Santo» termine com estas palavras:
«Senhor, não lhes atribuas este pecado.» (At 7,60)
Como
Jesus, o verdadeiro discípulo faz com que a luz do amor divino brilhe no país
sombrio da violência como é o nosso Brasil.
Este
amor, longe de ser um simples sentimento, reconcilia as oposições e cria uma
comunidade fraterna a partir dos mais diversos homens e mulheres, da vida desta
comunidade sai uma força de atração que pode agitar os corações. É este o amor
que eu chamo de perfeito, o amor que perdoa até aqueles que nos podem tirar a
vida.
Reflexão Apostólica:
Pois bem, na nova Lei promulgada por Jesus, esta atitude para com o inimigo tem indubitavelmente que ser corrigida. A lei do Senhor obriga a amar o inimigo.
Aqui não há que entender como inimigo somente a quem nos faz efetivamente o mal; com muito maior razão há que incluir também a quem pensa diferente, quem professa outra fé ou religião, ao que questionam, com muita razão às vezes, nossas freqüentes ambigüidades a respeito da maneira de viver nossa fé. Com todos estes, nossa atitude não pode ser de mera indiferença ou de ignorá-los simplesmente.
Jesus nos diz – nos exige – que os amemos. E isso implica que não estamos autorizados a excluí-los de nosso projeto de construção do reino, mas que devemos contar e exercer com eles nossas atitudes de justiça, de solidariedade e de amor fraterno.
Com a exortação ao amor ao inimigo e a reconciliação, Jesus remove tal tradição religiosa. O amor do Pai, manifestado por Jesus, tem conotação universal, sem exclusões e sem limites. Não há discriminação no dom de seu Amor.
O amor aos inimigos e aos perseguidores é um desafio de Jesus que marcará a diferença entre sua proposta de vida e dos comportamentos de muitos setores da sociedade de sua época e de todos os tempos.
Os méritos de amar somente os mais próximos ficam empobrecidos ante a novidade do amor, inclusive para com aqueles que perseguem ou causam dano. Trata-se de abrir o coração amplamente e dar passagem à autêntica reconciliação.
A grande novidade do projeto cristão sustentado no amor é que tem como referente Deus Pai, que ama infinitamente a todos os seus filhos.
Em seu coração não há lugar para a desigualdade ou o rancor; pelo contrário, seu coração é como o sol que nasce igualmente para todos. Esta característica do Deus cristão não elimina o caminho da conversão; reconfigura-o com os códigos do amor e do perdão, pois somente quem se sente fortemente amado e perdoado é capaz de reproduzir amor e perdão.
Os seres humanos temos hoje à nossa frente o desafio de esvaziar tantos ódios e violências que se acumularam ao longo da história de nossos povos.
Estabelecer um novo modelo de relações será fruto, em especial, de pequenos procedimentos que envolvem a pessoa, a família, a amizade, os grupos de trabalho, as comunidades eclesiais, em experiências comunitárias de amor e em escolas de perdão.
Esse deve ser o caminho mais efetivo para que muitos vejam e creiam no Evangelho.
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