Jesus morreu na sexta-feira. No sábado vieram o luto e a
incerteza. Talvez os discípulos tenham se perguntado: “Por que Jesus escolheu o
caminho da morte? Não poderia ter fugido?” Poderia. E Pedro, o apóstolo, nos
ensina a razão da escolha de Jesus: “Pois o próprio Cristo sofreu uma vez por
todas pelos pecados, um homem bom em favor dos maus, para levar vocês a Deus.”
(1Pe 3.18).
Hoje, séculos após a morte de Jesus, você sabe: o sofrimento de
Jesus, o sacrifício do bom em lugar do mau, teve um propósito: levar você a
Deus. Alegre-se! O luto
acabou.
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O
amor e o perdão de Deus caminham juntos
Nessa
véspera da Páscoa, que se chama de “sábado do silêncio” convido você, de uma
forma muito especial, a navegar pelo tema do Perdão, sob a ótica de Mateus tendo
em mente que “se alguém está em Cristo, é nova criatura: as coisas antigas já
passaram; eis que se fizeram novas” (II Co 5,17).
E
por que isso é importante? Porque quando Jesus disse: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que
fazem” (Lucas 23,34) vejo que essa oração a Deus teve o objetivo atingir as
seguintes pessoas: Primeiro Judas que o traiu; depois todos àqueles que
tramaram
para garantir uma sentença dada à revelia do acusado; também a Pedro que o negou
por três vezes; e, por fim aos discípulos que fugiram atemorizados diante da
sorte do Mestre.
Diante
do endereçamento da oração de Jesus, vou fazer um convite a vocês: Vamos tentar
nos transportar para aquela sexta-feira fatídica na Palestina, onde encontrarmos
uma cena que apresenta
a figura de Jesus despido de qualquer dignidade, reduzida à condição de trapo
humano e sendo
crucificado.
Olhando
para tudo isso e sofrendo as mais agudas dores nas mãos e nos pés, Jesus lança
um olhar de compaixão e ora: “Pai,
perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lucas 23,34). É bem forte; mas,
para um entendimento melhor desta oração é necessário dividi-la em
partes:
A
primeira parte é: “Pai, perdoa-lhes” – Jesus chama Deus de “Pai”, não de “Deus”
ou de “Senhor”. Essa mudança no tratamento é porque Jesus quis que Deus
exercesse a benignidade de Pai e não a severidade de um Juiz e evitar a cólera
de Deus, que certamente seria provocada pelas atrocidades
cometidas.
Jesus
usa o substantivo masculino Pai. A palavra Pai parece conter em si mesma este
pedido: Eu, Teu Filho, em meio de todos os meus tormentos, os perdoei. Faz Tu o
mesmo, Pai Meu, estende Teu perdão a eles. Mesmo que eles não mereçam, os perdoa
por Mim, Teu Filho, Teu único Filho. Lembra também de que és o Pai deles, pois
os criaste, fazendo-os à Tua imagem e semelhança. Mostra-lhes, o Teu sublime
amor de Pai, pois, mesmo sendo maus e fracos, eles são Teus
filhos.
Depois,
Jesus diz “Perdoa” - Esta palavra revela a Sua condição de advogado daqueles que
passiva ou ativamente concorreram para o acontecido; e, principalmente daqueles
que dias atrás, no domingo de ramos, O saldaram como rei ao entrar em Jerusalém
e logo depois O trocaram por Barrabás. Ou seja, do alto da Sua Cruz, o Nosso
Senhor orou pelo perdão de cada um de nós.
Já
a afirmação: “Pois não sabem o que fazem” – é uma necessidade para que Sua
oração seja razoável; na verdade, Jesus diminui-se, ou, mais ainda, dá uma
desculpa plausível para os pecados da humanidade. Não restou a Jesus outra
alternativa senão desculpar a falta cometida alegando ignorância. Jesus mostra a
Deus que nem Pilatos, nem os sumos sacerdotes, nem o povo tinham a real
consciência de que Ele era o Filho único de Deus.
Digo
sem medo de errar, que essa oração de Jesus é aplicada hoje para cada um de nós,
que ainda não tínhamos nascido; e, principalmente àquela multidão de pecadores
que eram seus contemporâneos mas que não tinham conhecimento do que estava
sucedendo em Jerusalém, então disse com muita verdade o Senhor: “Eles não sabem
o que fazem”.
Finalmente,
Jesus se dirigiu ao Pai também, ou melhor, principalmente, em nome de todos os
que testemunharam os acontecimentos e sabiam que Jesus era o Messias e um homem
inocente e nada fizeram.
E,
tudo que Ele faz (assim mesmo no presente) é porque perdoar é um dos atos
básicos da fé cristã; é a porta de entrada na vida que Jesus Cristo nos oferece,
que só é possível porque recebemos perdão do nosso Deus e Pai. Deus nos perdoou,
mediante a obra de seu Filho feita na cruz, em nosso favor. Por isso, não
podemos esquecer que o amor e o perdão sempre caminham
juntos.
Jesus,
nos relatos de Mateus
(Mt 18),
apresenta uma nova realidade, uma nova forma de viver a relação entre as
pessoas, vai enumerando a forma de viver plenamente o amor através do perdão. E,
para aplicarmos esses preceitos de Jesus devemos ter em mente que a lógica do
Filho de Deus, que morreu pedindo ao Pai perdão para os Seus assassinos e para
todos que O abandonaram, é a lógica que nos leva ao amor incomensurável de Deus,
tendo a certeza que “o coração do entendido adquire conhecimento; e o ouvido
dos sábios busca conhecimento” (Pv
18,15).
E,
isso quer dizer que é no perdão onde o amor de Deus é revelado; é no perdão que
pode nos ajudar a suportar e ultrapassar os nossos problemas, angústias e
decepções; pois, “o Senhor sustém a todos os que estão a cair, e levanta a
todos os que estão abatidos” (Sl 145,14). Com tudo isso, pode ser constatado
com certa facilidade, que o tamanho dos nossos problemas é inversamente
proporcional à importância que damos a Deus na nossa vida. Até porque perdão é
um ato de amor, e “o amor é isto: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi
ele que nos amou e mandou o seu Filho para que, por meio dele, os nossos pecados
fossem perdoados” (I Jo 4,10).
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