Marcos 12,28-34
A crítica que Jesus faz à
hermenêutica bíblica dos escribas, busca deslegitimar a teologia subjacente que
condena e discrimina os pobres, as mulheres, os estrangeiros, os enfermos.
Considerados impuros, sua condição social é ainda mais precária e desumana. Não
somente são pobres, mas são considerados impuros, ou seja, excluídos da
comunhão social judaica tornando ainda mais pesada sua dor e seu sofrimento,
pois para perder esta "impureza" deviam pagar uma oferenda ao Templo
e aos sacerdotes. Romper este “jugo ideológico” será um dos objetivos propostos
por Jesus quando entra em controvérsia com escribas e fariseus. No evangelho de
hoje, o escriba se dirige a Jesus de forma interrogativa, talvez esperando dele
um progresso no terreno do conhecimento, mas Jesus o convida a sair do mundo
dos “saberes” e lhe abre a possibilidade de centrar sua vida na única coisa que
importa.
Temos nesta narrativa de
Marcos um caso único de diálogo de um escriba com Jesus, sem atritos. Os
escribas eram intelectuais, minuciosos conhecedores dos textos da Lei. Este que
dialoga com Jesus chega a afirmar que o amor a Deus e ao próximo supera todos
os holocaustos e sacrifícios. Reconhece, assim, os dois maiores mandamentos.
Jesus, então, afirma que ele não está longe do Reino de Deus.
Por seus detalhes, esta
narrativa assemelha-se à cena do jovem rico, ao qual apenas faltou dar tudo aos
pobres e seguir Jesus. Com isso se percebe que ao escriba faltava romper com as
doutrinas e observâncias legais e desapegar-se de suas riquezas. A expressão de
nossa adesão ao amor de Deus não é o culto religioso, mas sim o amor concreto e
solidário ao nosso próximo.
Quando um dos escribas
pergunta a Jesus sobre o primeiro mandamento, tenta arrastar Jesus a seu
“campo” onde é especialista e ali então quebrar sua “popularidade” e sua
autoridade. Mais de seiscentos mandamentos requer certa profissionalização
jurídica. O escriba quer saber se Jesus é um "perito" naquilo que
todo judeu ortodoxo — muito mais se se trata de um mestre — deve ser, no
conhecimento, interpretação e cumprimento da Lei.
Jesus responde que há dois,
vinculando assim experiência teológica (amarás a Deus…) e social (e a teu
próximo…). Sua resposta não é dirigida a ampliar seus conhecimentos, mas a
provocar nele uma mudança de vida... O Reino continua se aproximando também de
nós quando aceitamos que ao amor não se chega pelo caminho das generalidades,
mas por meio da realidade tangível e concreta dos fatos.
Quando o escriba considera
acertada a resposta, dentro de um contexto pós-pascal conflitivo entre judaísmo
e cristianismo, o relato quer ressaltar um princípio comum, mas também uma
diferença — ”Não estás longe do reino de Deus”. Contudo, esta é a base
permanente de unidade entre judaísmo e cristianismo. A diferença está na
maneira de entender quem é Deus, quem é Israel, quem é o próximo e aplicar suas
conseqüências.
O diálogo se fecha quando se
afirma a primazia da vida humana junto com a adoração a Deus. Tal afirmação
constitui o ponto de contraste com o desenvolvimento dos acontecimentos
posteriores. Paradoxalmente, a teologia que afirma a primazia da vida humana é
a mesma que legitimará a morte de quem reivindica a primazia da vida humana,
crendo defender a primazia da adoração a Deus.
Contra uma prática da
religião meramente externa, fria e legalista, como era a dos escribas e
fariseus, Jesus ensina que na verdadeira religião o amor é que tem a primazia,
tanto na relação com Deus como com o próximo. Reconhecer isso, como fez o
escriba, é já estar próximo do Reino de Deus.
Religião é re-ligação, é Deus
chamando o homem para comunhão consigo ou é o homem tentando se auto-preencher,
abafando o chamado interior. O homem tem dentro de si um vazio que só é
preenchido por Deus. Deus o criou assim, deixando um espaço para comunhão com o
ser humano. Mas quando Adão pecou, em suma, disse a Deus: "Não o quero em
minha vida." Desde então o homem vem tentando preencher esse vazio, que o
incomoda, para que se sinta em paz.
Entretanto, quando se acentua
somente o amor a Deus, cai-se no espiritualismo ou no descuido com o próximo,
aparecendo todo tipo de mecanismos e sofismas alienantes, como o excessivo
apego ao culto (AT), o excesso de devoções carentes de fundamento.
Essa atitude foi a luta
constante da corrente deuteronomista e dos profetas, e é o que também Jesus
denunciará; mas se o acento principal recair somente no amor ao próximo, as
atitudes podem ser muito bonitas, podem, por exemplo, surgir todo tipo de
“ajudas” materiais e econômicas para os pobres, mas não passarão de simples
filantropia que logo desembocará em assistencialismo e no sentimento estéril de
unicamente ter pena dos outros, mas sem nenhum compromisso efetivo e ativo para
lutar contra tudo que gera injustiça e desigualdade.
O critério de Jesus é, então,
combinar ambos os mandamentos, os dois amores, de tal forma que um seja o
termômetro do outro e, sobretudo, buscando que quem escolhe levar a cabo o
cumprimento de ambos os mandamentos seja cada dia mais humano, mais fraterno,
mas solidário, e mais filho de Deus e irmão dos outros.
No entanto, pô-lo em prática
é que é de fato entrar no Reino. Evitemos o perigo da mecanização da nossa
vivência da fé. Que ela não se reduza a uma prática litúrgica na qual estamos
presentes de corpo, mas não de espírito. Tal atitude não pode deixar de ter
sérias conseqüências para as nossas vidas.
As palavras de Jesus, hoje,
trazem-nos a essência, o centro do que é ser Cristão: Amar a Deus e amar o
próximo. Nestes dois mandamentos se resumem o que deve ser um cristão e o que
deve ser a comunidade cristã. São estas as únicas leis que um cristão deve
seguir: amar a Deus e amar ao próximo. E estas duas vêem juntas, são um único
mandamento, o mandamento do amor que vem de Deus e nos faz amá-Lo em resposta,
mas também o próximo, como diz a carta de João: «Nós amamos, porque Deus nos
amou primeiro. Se alguém diz que ama a Deus, mas tem ódio ao seu irmão, é um
mentiroso. De fato, aquele que não ama o seu irmão, a quem vê, como pode amar a
Deus, a quem não vê? O mandamento que Jesus nos deixou é este: aquele que ama a
Deus deve também amar o seu irmão.» Quem assim o conseguir fazer na sua vida,
será um verdadeiro cristão, um fiel verdadeiro, se a comunidade cristã fizer
isso, será verdadeiramente Igreja.
Nada disto é novo para nós
pois sabemos que o grande e único mandamento que Jesus trouxe é o do Amor. A
resposta que Jesus dá ao Fariseu, não terá sido novidade também para ele. Jesus
não terá sido o único do seu tempo a dizer que toda a Lei (Torah) e os profetas
mais não fazem do que exemplificar, desenvolver o fundamental, o central que é
amar a Deus e ao próximo. Só em relação ao próximo, na Lei (Torah), existem
mais de 50 mandamentos.
O próprio apóstolo Paulo, um
judeu fariseu de formação o diz na sua carta aos romanos: «A ninguém fiqueis
devendo coisa alguma, a não ser o amor recíproco; porque aquele que ama o seu
próximo cumpriu toda a lei. Pois os preceitos: Não cometerás adultério, não
matarás, não furtarás, não cobiçarás, e ainda outros mandamentos que existam,
eles se resumem nestas palavras: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.
A caridade não pratica o mal
contra o próximo. Portanto, a caridade é o pleno cumprimento da lei.». E,
quanto ao mandamento de amar a Deus, ele aparece no texto talvez mais lido e
sabido de cor pelos judeus: « Ouve, ó Israel! O Senhor, nosso Deus, é o único
Senhor. Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e
de todas as tuas forças. Os mandamentos que hoje te dou serão gravados no teu
coração. Tu os inculcarás a teus filhos, e deles falarás, seja sentado em tua
casa, seja andando pelo caminho, ao te deitares e ao te levantares. Atá-los-ás
à tua mão como sinal, e os levarás como uma faixa frontal diante dos teus
olhos. Tu os escreverás nos umbrais e nas portas de tua casa.» Cristãos e
Judeus, temos isto em comum: Sabemos que temos o dever de cumprir o grande
mandamento de amar a Deus e ao próximo.
Mas, o centro do texto de
hoje, o que Jesus nos vem dizer, não está no saber esse mandamento, está no
compreende-lo verdadeiramente, e sobretudo: Pô-lo em prática.
Em relação à compreensão,
temos de ter em atenção que Jesus usa o verbo amar num tempo que pode ser
traduzido no indicativo futuro: “amarás” ou no imperativo presente: “Ama!”.
Amar a Deus e ao próximo é simultaneamente uma tarefa para o futuro, mas
também, não podemos esquecer um imperativo presente. Há que começar já, agora,
neste momento a amar, e não esperar para começarmos amanhã. O amor de amanhã
não espera, ele começa já! É imperativo agora amar. Contudo, os medos, as
prisões, os sofrimentos fazem-nos muitas vezes adiar para o futuro uma intenção
de amar.
O mandamento diz também para
amar a Deus com todo o coração, toda a alma e todo o entendimento. Três
palavras que no original são todas femininas (alusão ao amor de mãe). Coração,
no original grego: kardia. Esta palavra não significa somente coração,
sentimento, não, ela significa o centro do nosso ser, a nossa vontade, o nosso
desejo, a nossa intenção. Amar a Deus com todo o coração, não quer dizer amar
com o sentimento, mas com o centro do nosso ser, com toda a nossa vontade, com
todo o nosso desejo, com toda a nossa intenção; Alma, no original grego:
Psyché, não quer dizer apenas alma, quer dizer vida, o que nos faz viver.
Amar a Deus com toda a alma é
amar como respiramos, como se para nos mantermos vivos, dependesse disso o amar
a Deus. Amar a Deus é o que nos faz viver. Entendimento, no original grego:
dianoia, não quer dizer apenas entendimento, mas também propósito, atitude.
Amar a Deus com todo o entendimento, significa amá-lo em todo o momento, em
qualquer coisa que façamos, onde quer que estejamos, significa que todas as
nossas atitudes são sempre de amor, quer estejamos ao domingo dentro da Igreja,
ou ao sábado à noite com os nossos amigos e colegas.
Quanto a pôr em prática esta
compreensão do mandamento, quem o pode cumprir verdadeiramente? Gandhi, dizia:
“Mostrem-me um Cristão e eu serei um.” Dizia ele isto, porque não conseguia ver
em nenhum que se dizia cristão a concretização na vida do seguimento do
mandamento do amor. O livro do êxodo alerta para isso.
Quantos se dizem cristãos e
oprimem os estrangeiros, (veja-se os que criticam a presença de estrangeiros
neste país, como se nunca ninguém tivesse saído de Brasil para tentar uma vida
melhor no estrangeiro, veja-se o que estão a fazer com aqueles que tentam
entrar em território espanhol).
Quantas vezes nós, nos
portamos como usurários, e precisamente nestes tempos de crise não temos
remorsos em emprestar dinheiro com juros altíssimos sem pensarmos que essas
pessoas podem vir a ficar sem dinheiro até somente para se protegerem do frio
nas ruas úmidas das grandes capitais. Não, o amor misericordioso de Deus com
que o texto do livro do Êxodo conclui, muitas vezes não é o amor que nós dizemos
que seguimos quando dizemos que seguimos a Cristo. Sim, quem ama a Deus e ao
próximo com todo o coração, com toda a alma e todo o entendimento? Quem amou,
quem amará?
Jesus Ama!! Jesus amou, Jesus
amará, sempre!! É esta a grande novidade que o Cristão trás dentro de si.
Cristo, pela sua vida, pela sua paixão, pela sua morte, demonstrou que é
possível viver até às últimas conseqüências o amor a Deus e ao próximo. Ele
amou a Deus e ao próximo com todo o seu coração, todo o seu ser, como toda a
sua alma, toda a sua vida, com todo o seu entendimento, em todos os momentos,
mesmo na morte. E este seu amor que brotava do Pai e que vivia nele por ação do
Espírito, ele nunca desistiu dele.
Jesus também teve medo, ao
ponto de suar sangue no Monte das Oliveiras; ele também esteve preso; ele
sofreu o abandono do Pai, mas o amor, ele nunca o abandonou, pois sabia com o
todo o seu coração, com todo a sua alma e todo o seu entendimento que vivendo
esse amor que vem de Deus, jamais iria morrer, pelo contrário, iria vencer a
morte e viver para todo o sempre. E mais: Jesus com essa obediência de vida em
amor, trouxe assim, por meio da fé nele a possibilidade de também nós
participarmos dessa Vida Eterna, do Reino de Deus.
O cristão pode de fato amar a
Deus e ao próximo com todo o coração, com toda a alma e com todo o
entendimento. Disso é testemunha Paulo, nesta carta que escreve aos
Tessalonicenses. Eles são o modelo para todos os crentes da Macedônia e Acaia.
A sua fé espalhou-se por toda a parte. E ao longo da história da Igreja, embora
pareça raro, encontram-se inúmeros exemplos de homens e mulheres, de
comunidades cristãs, que viveram o mandamento do amor com todo o coração, toda
a alma e todo o entendimento. (Madre Teresa de Calcutá, Martin Luther King, os
apóstolos, irmão Roger de Taizé, aqueles que nós conhecemos: pilares da
igreja).
Temos sentido o mesmo
sentimento que Paulo pela comunidade de Tessalônica (acolhimento de comunidade
cristã-igreja). Temos sentido que em nossas vidas temos vivido o mandamento do
amor com todo o nosso coração, toda a nossa alma e todo o nosso entendimento.
Sim, é possível viver esse amor. Quando deixamos entrar Cristo, quando deixamos
que ele viva em nós, então podemos viver o mesmo amor que ele viveu e assim
participar da Vida plena, que um dia há de vir.
Amar a Deus e amar ao
próximo. Um dia, um certo doutor da Lei perguntou: E quem é o meu próximo? E
então Jesus contou a parábola do Bom Samaritano.
Que possamos nós lutarmos
enquanto seres humanos plenos de fé e também enquanto igreja viva de Cristo,
apesar dos sofrimentos, das prisões, dos medos, por vivermos o mandamento do
amor, e que pela nossa vida, em obras e também em palavras levemos ao mundo
inteiro esse mandamento do amor, para que todo o mundo participe um dia da Vida
Eterna!
Amar é a segunda razão da
nossa existência. Muitos pensam que amar consiste em possuir algum sentimento
bom em relação às pessoas. Não! Amar não é somente sentimento, pois se assim
fosse, Jesus não teria nos ordenado amar até os nossos inimigos: “mas eu lhes
digo: amem os seus inimigos e orem pelos que perseguem vocês”. Amar é atitude,
é querer fazer o bem, mesmo que a pessoa não mereça, como o caso dos inimigos.
O apóstolo João diz: “Meus filhinhos, o nosso amor não deve ser somente de
palavras e de conversa. Deve ser um amor verdadeiro, que se mostra por meio de
ações”. A Palavra de Deus deixa bem claro como devemos amar e diz também porque
devemos amar: “Nós amamos porque Deus nos amou primeiro”; e “Cristo deu a sua
vida por nós. Por isso nós também devemos dar a nossa vida pelos nossos
irmãos”.
A Igreja existe para levar
amor de Deus ao seu povo e isso é realizado por meio de um ministério que é
demonstrar o amor de Deus aos outros, atendendo suas necessidades e curando
suas feridas, em nome de Jesus. Cada vez que você está tocando a vida de alguém
com amor, está ministrando a essa pessoa.
Muitas são as necessidades
das pessoas e muitos são os modos de ir ao encontro dessas necessidades; por
isso, Deus tem dado a cada um de nós um ou mais dons para que possamos levar o
seu multiforme amor a todos. Para isso, é preciso descobrir nossos dons
espirituais e habilidades. Assim, nosso ministério será mais eficiente e eficaz
quando estivermos usando nossos dons e habilidades na área em que nós mais nos
sentimos tocados e que mais expresse nossa maneira de ser.
Como já vimos, o mandamento
do amor de Deus é complementado, já no Antigo Testamento, pelo segundo: «Amarás
o teu próximo como a ti mesmo». Por seu lado, no Novo Testamento, o amor ao
próximo aparece sempre como indissolúvel do amor de Deus. Os dois mandamentos
não são na realidade senão um só.
A caridade fraterna torna-se,
assim, o conteúdo e a realização prática de toda e qualquer exigência moral:
«Fazei-vos servos uns dos outros pela caridade, porque toda a Lei se encerra
num só preceito, que é o seguinte: amarás o próximo como a ti mesmo». É, em
definitiva, o único mandamento: «O meu mandamento é este: que vos ameis uns aos
outros como Eu vos amei». «Quem não ama o seu irmão que vê, como pode amar a
Deus que não vê? ... Quem ama a Deus ame igualmente o seu irmão». Não se podia
afirmar com mais clareza que, em substância, não há senão um único amor: o amor
do próximo, porque é através do amor ao próximo que põe em prática o amor a
Deus.
Mas, atenção! O amor ao
próximo não é apenas um sentimento. É essencialmente religioso. Não é simples
filantropia. É religioso pelo seu modelo: o cristão ama o seu próximo para
imitar a Deus, que ama a todos sem distinção. Mas é sobretudo pela sua fonte, ou
seja, porque é obra de Deus em
nós. Como poderíamos, de fato, ser misericordiosos como o é o
Pai celeste se o Senhor não no-lo tivesse ensinado e se o Espírito não o
difundisse nos nossos corações?
O amor a Deus e ao próximo
esta acima de qualquer outro mandamento e não pode ficar preso e amarrado, mas
circular livremente entre os irmãos como sangue nas veias.
Não existem cristãos
bonzinhos e perfeitos. Todos nós estamos a caminho da perfeição e se quisermos
receber a eterna salvação, o primeiro passo é reconhecermos a nossa
incapacidade de fazer a vontade de Deus. Somente assim, reconhecendo
honestamente que o nosso amor é falho, reconhecendo e confessando as nossas
dificuldades, que podemos entender como precisamos da presença do Espírito
Santo em nossas vidas. Somente assim, podemos entender como precisamos do poder
e da graça de Deus para sermos salvos. Pois é somente pela graça e pelo poder
do Espírito Santo, será possível que sejamos transformados! É somente pelo
poder e pela graça do Espírito Santo de Deus que podemos ser mudados em pessoas
que amam a Deus e que amam a seu próximo.
A questão da relação entre o
amor de Deus e o amor dos homens está sempre no centro da vida cristã. É uma
questão tão clara e precisa na sua formulação teórica quanto é problemática e
instável na sua tradição prática e existencial.
Em todas as épocas da
história da Igreja, essa realidade essencial corre o risco de ser parcialmente
escondida e até distorcida, inclinando o fiel da balança quer para um quer para
o outro pólo. Hoje, por exemplo, alguns cristãos são levados a pôr em evidência
as exigências do amor fraterno sem fronteiras, preocupando-se menos com saber
em que o verdadeiro amor fraterno é «idêntico» ao amor de Deus.
Quando o amor ao próximo é
separado do amor a Deus, pode acontecer que haja enganos sobre as dimensões
integrais do próprio amor ao próximo em si, porque facilmente o próximo passa
de sujeito a objeto e, nesse caso, o «interesse» que o próximo merece pode nada
ter a ver com o real amor, mas descair na exploração.
Estou convencido que, onde
Deus não ocupa mais o lugar que lhe compete, começa a perder importância também
a relação para com o próximo. Frente à fome, à injustiça e à opressão, há o
risco de uma resposta de «violência que gera violência». Para resolver os
problemas causados pela superpopulação, sugere-se uma planificação
indiscriminada dos nascimentos e à adoção do aborto legalizado. Frente à crise
da família, propõe-se logo como remédio o divórcio. Perante a inelutabilidade
do fim dum doente incurável, propõe-se a eutanásia.
As considerações feitas não
impedem, porém, que se possa continuar a dizer que o amor ao próximo requer
inevitavelmente um empenho concreto no mundo e na luta pela libertação do homem
de hoje de toda a forma de escravidão...
Houve, num passado não muito
distante, uma espiritualidade e uma mística que, para sublinhar o pólo do amor
de Deus, pregou a fuga do mundo e o desprezo das coisas do mundo; uma
espiritualidade que falou duma escolha nítida entre Deus e o mundo,
arriscando-se a dilacerar o coração e a alma do cristão em dois amores
antitéticos.
Ora, essa visão do problema
não é evangélica. Os cristãos na Igreja têm a responsabilidade de manifestar
aos homens os sinais autênticos do amor que salvou o mundo. Como «corpo» de
Cristo que é, a Igreja nunca cessa de ser esse sinal. Mas depende da fidelidade
dos cristãos que esse sinal tenha significado.
O homem moderno, mais do que
o que o precedeu, aspira a uma maior paz e justiça e, para essa finalidade,
mobiliza as suas energias. Todavia, querer a justiça e a paz significa também
querer os meios necessário para as atingir. A reta intenção e as belas palavras
não bastam. É necessário fazer opções, no plano da ação individual e coletiva,
em função duma análise realística dos dados do problema em toda a sua
complexidade. Se calhar, é neste campo que se joga o futuro da Igreja, a sua
credibilidade perante o mundo e a sua fidelidade ao Evangelho.
Para "fechar " a
nossa reflexão de hoje, colocamos duas perguntinhas bem simples para serem
respondidas, com muita lealdade, para nós mesmos:
1 - Qual sua maneira de servir ao próximo ?
2 - Em que área da vida das pessoas você leva o amor de Deus (espiritual,
emocional, física e/ou social)?
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