16 junho - Sente-se um aperto no coração ao
pensar na multiplicação dos roubos sacrílegos e na incapacidade de erguer uma
barreira contra tanta impiedade. Pobre Jesus, perseguido, desprezado, despojado
até no pacífico refúgio do Sacrário. (L 209). São Jose Marello
João
16,12-15
"Tenho
ainda muitas coisas a vos dizer, mas não sois capazes de compreender agora.
Quando ele vier, o Espírito da Verdade, vos guiará em toda a verdade. Ele não
falará por si mesmo, mas dirá tudo quanto tiver ouvido e vos anunciará o que há
de vir. Ele me glorificará, porque receberá do que é meu para vos anunciar.
Tudo que o Pai tem é meu. Por isso, eu vos disse que ele receberá do que é meu
para vos anunciar."
O
Quarto Evangelho nos traz formulações muito bonitas referentes à Trindade,
especialmente no ultimo Discurso de Jesus. Em diversos textos, João expressa a
função do Espírito dentro da comunidade pós-ressurrecional. No capítulo 16,
donde se tira o texto de hoje, existe um trecho trinitário; se referem ao
Espírito; a Jesus; ao Pai.
Nos
texto de hoje, a função de ensinar, do Espírito, recebe ênfase. Como em um
texto paralelo, esse ensinamento não trará nada de novo. Jesus já recebeu tudo
do Pai e o Paráclito recebe tudo de Jesus. Mas o ensinamento dele vai fazer com
que os discípulos compreendam melhor o que significava o ensinamento que
receberam de Jesus. Vai fazer com que eles “recordem” as suas palavras, e assim
consigam colocá-las em
prática. O termo “verdade" que se usa neste trecho tem
que ter o mesmo sentido que tem em outros textos do quarto evangelho, isso é, a
fé em Jesus como a revelação de Deus e nele como quem fala as palavras de Deus.
O
ápice da Revelação está nos Evangelhos. Pois a totalidade da Revelação — é
Cristo! O Novo Testamento é também, antes de tudo, história. A história do
Evangelho do Verbo encarnado e do começo da história da Igreja, que aguarda
agora pela sua complementação apocalíptica. A base dos Evangelhos são fatos,
eventos, realidades, não somente comandos, ensinamentos, palavras. Aqui a base
é Cristo e a Igreja, Seu Corpo. "Que é o Seu Corpo, a plenitude Daquele
Que cumpre tudo em todos". Os Evangelhos são história. Eventos históricos
são o tema e a fonte da fé e da esperança cristãs.
Com
as palavras que Jesus dirige a seus discípulos durante a Última Ceia, podemos
completar a idéia que nos suscita a primeira leitura, sobre a presença
iluminadora de Deus no meio dos seus; somente o Espírito Santo que derramará
Jesus sobre seus discípulos poderá iluminar o suficiente a mente dos fiéis para
captar um pouco mais e melhor toda a verdade que Deus revelou em seu Filho.
A
verdade que um homem proclame sempre será incompleta; a verdade que uma
corrente religiosa, política, filosófica ou de qualquer outra classe proclame,
sempre será parcial; a verdade que Deus revelou em Jesus é total e definitiva,
mas a mente do crente não pode captá-la em sua absoluta plenitude. Por isso,
Jesus promete seu Espírito, o único que nos irá mostrando o caminho, guiando
para o conhecimento dessa verdade absoluta que é Deus.
A
mensagem de Jesus tem conseqüências que os discípulos ainda não compreendiam e
horizontes que não podiam vislumbrar. Todavia não sabem como vai morrer Jesus,
nem mesmo compreendem o sentido ultimo de sua morte; tampouco percebem os
efeitos que esta terá no mundo, a alternativa que oferecerá ao sistema mundano
para que mude e adote o plano de Deus.
Por
detrás da morte de Jesus o Espírito será o guia da comunidade e a voz de Jesus
irá dirigindo os discípulos em sua atividade em favor de todos. Para acertar no
que convém, os discípulos terão de estar atentos, por uma parte, ao que vai
ocorrendo na sociedade e, por outra, a voz do Espírito que o interpreta.
Para
revelar aos discípulos o significado dos acontecimentos históricos, o Espírito
manifestará a glória de Jesus, quer dizer, evidenciará o amor que inspirou sua
vida e culminou em sua morte; porque só através do amor se pode conhecer a
pessoa humana, interpretar suas ações e colocar as bases da sociedade. O
Espírito Santo, presente nas comunidades, reforça a esperança e move os povos a
um clamor pela fraternidade, justiça e paz.
E
esta será a principal tarefa da comunidade: impregnar de amor o mundo e tomar o
amor como chave para fundar sobre ele a nova sociedade que não se baseia na
lei, nem no culto nem no templo, mas sim no amor solidário para com o próximo,
que já não se encontra perto de mim, mas aquele de quem eu me aproximo, ou o
que é igual, a humanidade inteira.
Hoje,
a humanidade sofre as maiores violências com os crimes hediondos praticados
pelos exércitos mais poderosos do mundo. O Espírito Santo, presente nas
comunidades, reforça a esperança e move os povos a um clamor pela fraternidade,
justiça e paz.
O
mundo de hoje aumenta os fardos que carregamos. É por isso que um relacionamento
íntimo com o Senhor inclui uma poderosa vida de oração. Quanto mais você
pratica orar levando seus cuidados a Deus, mais majestoso é contemplar como
Deus cuidará das coisas que são impossíveis de você fazer sozinho. Nossa
atitude ante Deus, ante o Mestre Jesus, terá que ser sempre a de pedir
continuamente a luz, o Espírito. Não devemos nos apegar a verdades parciais;
nem dar por acabada e descoberta a verdade total.
A
cada momento, por mais que saibamos sobre Deus e por mais que falemos dele,
nosso conhecimento, nossa percepção dessa Verdade Única serão sempre mínimos,
insuficientes, carentes de plenitude. Será com outras verdades, visões,
percepções de diferentes homens, de culturas diversas, de várias religiões, que
lograremos ir completando pouco a pouco a Única Verdade que é Deus, manifestado
em seu Filho Jesus.
Como
em todas as afirmações sobre a Divindade podemos assegurar que as negativas são
verdades conhecidas e indiscutíveis: Deus não é matéria, por exemplo. Sabemos o
que é matéria e podemos entender a negação da mesma. Mas as afirmativas são
análogas ou expressas em termos de semelhança: Deus é espírito. E quem pode
afirmar realmente que coisa é espírito quando tantos negam sua existência?
Conseqüentemente é uma firmação em que se deve entrar a analogia, e se deve
deixar lugar a um simbolismo exemplificativo para explicar o que não podemos
entender de modo próprio. É como se a um cego de nascença alguém explicasse a
diferença entre as cores: O vermelho é excitante. O amarelo é calmante, diríamos.
Mas ele nunca poderia entender o que nós tentamos explicar. Também podemos
afirmar de Deus diversos atributos como o Poder, a Sabedoria, a Bondade,
abstraindo essas qualidades dos objetos de suas obras.
Mas
que significam tais atributos, separados, num Deus que é Uno? Por que afirmamos
que ele é também Trino? A Igreja, servindo-se dos termos filosóficos
[científicos] da época, fala de uma única natureza e de três pessoas. Até agora
não temos encontrado melhores definições. Das expressões evangélicas temos que
existe um Pai, que tem um Filho e que entre ambos enviam um Espírito, a suprir
a existência humana do Filho entre os discípulos até o fim dos tempos.
Com
uma tenacidade que perdurou séculos, os teólogos, cientistas da Revelação, têm
ampliado estas definições simples para descobrir em Deus as duas operações que
chamam processões [não procissões] ou processos e que estas se efetuam tendo
como exemplos para nós, a operação do intelecto e a que surge do amor. No
final citamos um exemplo da ciência moderna dentre as bases últimas, os
chamados tijolos, que constituem a matéria: os quarks.
No
evangelho de hoje entram as três pessoas, Pai, Filho e Espírito para afirmar
que Pai e Filho têm tudo em comum, ou seja uma mesma vida, que podemos trasladar
em termos filosóficos como natureza comum, e que o Espírito tem com o Filho uma
comunidade de pensamento e de atuação, por tê-los recebido diretamente do
Filho, que por sua vez os recebeu do Pai. Comunidade intelectual e união de
vontades que é o mesmo que vida entre espíritos. È uma forma simples de pregar
a Trindade entre “seres” [pessoas] que constituem uma unidade de vida.
Dentro
das limitações da linguagem humana tentamos expressar a mistério da Trindade
como “três pessoas numa única natureza”. Mas mais importante do que encontrar
fórmulas abstratas para expressar o que no fundo é inexprimível, é descobrir o
que a doutrina da Trindade pode nos ensinar para a nossa vida cristã. Talvez o
livro de Gênesis possa nos ajudar. Lá se diz que Deus “criou o homem à sua
imagem; à imagem de Deus ele o criou; e os criou homem e mulher”.
Se
somos criados na imagem e semelhança de Deus, é dum Deus que é Trindade, que é
comunidade perfeita na diferença. Assim, só podemos ser pessoas realizadas na
medida que vivemos comunitariamente. Quem vive só para si é destinado à
frustração e infelicidade, pois está negando a sua própria natureza. O egoísmo
é a negação de quem somos, pois nos fecha sobre nós mesmos, enquanto fomos
criados na imagem dum Deus que é o contrário do individualismo, pois é
Trinitário.
No
mundo pós-moderno, onde o individualismo social, econômico e religioso é tido
como critério fundamental da vida, a doutrina da Trindade nos desafia para que
vivamos a nossa vocação comunitária, criando uma sociedade de partilha,
solidariedade e justiça, no respeito do diferente do outro, pois fomos criados
na imagem e semelhança deste Deus que e amor e comunhão.
Oração: Pai, Conservai
- nos no bom caminho para que, no meio de tantas dificuldades, não caiamos no
desespero em na exaltação. Que o Espírito nos ensine toda a verdade e nos
revele as coisas que hão de vir, para que possamos enveredar, com toda
segurança, pelo caminho que é Jesus. Amém.
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