16 - Sente-se um aperto no coração ao pensar na multiplicação
dos roubos sacrílegos e na incapacidade de erguer uma barreira contra tanta
impiedade. Pobre Jesus, perseguido, desprezado, despojado até no pacífico
refúgio do Sacrário. (L 209).São Jose marello
Amar os inimigos. - Mt 5,43-48
“Ouvistes
que foi dito: ‘Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo!’ Ora, eu vos digo:
Amai os vossos inimigos e orai por aqueles que vos perseguem! Assim vos
tornareis filhos do vosso Pai que está nos céus; pois ele faz nascer o seu sol
sobre maus e bons e faz cair a chuva sobre justos e injustos. Se amais somente
aqueles que vos amam, que recompensa tereis? Os publicanos não fazem a mesma
coisa? E se saudais somente os vossos irmãos, que fazeis de extraordinário? Os
pagãos não fazem a mesma coisa? Sede, portanto, perfeitos como o vosso Pai
celeste é perfeito.”
Meditação:
O "sede perfeitos como o Pai celeste é
perfeito" é a grande síntese. Ela opõe-se a multiplicidade de preceitos e
observâncias santificadoras do Primeiro Testamento. A prática do amor
misericordioso significa participar da perfeição do Pai celeste, em comunhão de
vida com Deus e com os irmãos. A proposta do Reino se baseia no amor. O Reino de Deus se constrói na força do amor, não na violência ou na agressividade. Quem ama é capaz de dar até sua própria vida pelos demais, perdoando inclusive o perseguidor, o que hostiliza, maltrata e o assassino. Este é o milagre do amor: o amor aos inimigos.
Essa é a proposta do Mestre. “Amar os inimigos” torna possível, no seguidor de Cristo, a relação filial com o Pai. Somente assim seremos filhos, sendo semelhantes a Jesus, e sermos misericordiosos como é Deus, nosso Pai.
O amor de Deus é aquele que passa por cima do ódio que deveríamos sentir pelos nossos inimigos: «Vocês ouviram o que foi dito: “Ame os seus amigos e odeie os seus inimigos.” Mas eu lhes digo: amem os seus inimigos e orem pelos que perseguem vocês, para que vocês se tornem filhos do Pai de vocês, que está no céu». Nestas palavras de Jesus está a perfeição do amor.
Jesus hoje nos exorta longamente para que
respondamos ao ódio com amor. Este texto, aparecendo nessa situação, ajuda-nos
a compreender, que Mateus vê no amor aos adversários, a característica
específica dos discípulos de Cristo.
As palavras de Jesus indicam duas maneiras
de viver:
A primeira é a dos que se comportam sem
referência a Deus e sua Palavra. Esses agem em relação aos outros em função da
maneira como eles os tratam, a sua reação é de fato uma reação. Dividem o mundo
em dois grupos, os amigos e os que não o são, e fazem prova de bondade só em
relação aos que são bons para eles.
A segunda forma de viver não põe em
primeiro lugar um grupo de homens, mas sim o próprio Deus. Deus, por seu lado,
não reage de acordo com a maneira como o tratam; pelo contrário, «Ele é bom até
para os ingratos e os maus» (Lc 6,35).
Jesus chama assim a atenção para a
característica essencial do nosso Deus. Fonte transbordante de bondade, Deus
não se deixa condicionar pela maldade de quem está à sua frente.
Mesmo esquecido, mesmo injuriado, Deus
continua fiel a si próprio, só pode amar. Isto é verdadeiro desde a primeira
hora.
Diferentemente dos homens, Deus está sempre
pronto a perdoar: «Os meus planos não são os vossos planos, os vossos caminhos
não são os meus caminhos» (Is 55,7-8).
O profeta Oséias, por seu lado, ouve o
Senhor dizer-lhe: «Não desafogarei o furor da minha cólera… porque sou Deus e
não um homem» (Os 11,9).
Numa palavra, o nosso Deus é misericordioso
(Ex 34,6; Sl 86,15; 116,5 etc), «não nos trata de acordo com os nossos pecados,
nem nos castiga segundo as nossas culpas» (Sl 103,10).
A grande novidade do Evangelho não é tanto
o fato de que Deus é Fonte de bondade, mas que os homens podem e devem agir à
imagem do seu Criador: «Sede misericordiosos, como o vosso Pai é
misericordioso!» (Lc 6,36).
Através da vinda do seu Filho até
nós, esta Fonte de bondade está agora acessível. Tornamo-nos, por nosso lado,
«filhos do Altíssimo» (Lc 6,35), seres capazes de responder ao mal com o bem,
ao ódio com amor.
Vivendo uma compaixão universal, perdoando
aos que nos fazem mal, damos testemunho de que o Deus de misericórdia está no
coração de um mundo marcado pela recusa do outro, pelo desprezo em relação
àquele que é diferente.
Impossível para os humanos entregues às
suas próprias forças, o amor pelos inimigos testemunha a atividade do próprio
Deus no meio de nós. Nenhuma ordem exterior o torna possível.
Só a presença, nos nossos corações, do amor
divino em pessoa, o Espírito Santo, permite amar assim. Este amor é uma
conseqüência direta do Pentecostes.
Não é em vão que Estêvão, «cheio do
Espírito Santo» termine com estas palavras: «Senhor, não lhes atribuas este
pecado.» (At 7,60)
Como Jesus, o verdadeiro discípulo faz com
que a luz do amor divino brilhe no país sombrio da violência como é o nosso
Brasil.
Este amor, longe de ser um simples
sentimento, reconcilia as oposições e cria uma comunidade fraterna a partir dos
mais diversos homens e mulheres, da vida desta comunidade sai uma força de
atração que pode agitar os corações. É este o amor que eu chamo de perfeito, o
amor que perdoa até aqueles que nos podem tirar a vida.
Reflexão Apostólica:
Embora o ódio ao inimigo não estivesse
explicitado em nenhuma parte da Escritura, sabemos que a coisa mais normal era
então, como é ainda, a rejeição categórica aos inimigos do povo, que, além
disso, eram considerados inimigos da religião e, portanto, inimigos de Deus. Pois bem, na nova Lei promulgada por Jesus, esta atitude para com o inimigo tem indubitavelmente que ser corrigida. A lei do Senhor obriga a amar o inimigo.
Aqui não há que entender como inimigo somente a quem nos faz efetivamente o mal; com muito maior razão há que incluir também a quem pensa diferente, quem professa outra fé ou religião, ao que questionam, com muita razão às vezes, nossas freqüentes ambigüidades a respeito da maneira de viver nossa fé. Com todos estes, nossa atitude não pode ser de mera indiferença ou de ignorá-los simplesmente.
Jesus nos diz – nos exige – que os amemos. E isso implica que não estamos autorizados a excluí-los de nosso projeto de construção do reino, mas que devemos contar e exercer com eles nossas atitudes de justiça, de solidariedade e de amor fraterno.
Com a exortação ao amor ao inimigo e a reconciliação, Jesus remove tal tradição religiosa. O amor do Pai, manifestado por Jesus, tem conotação universal, sem exclusões e sem limites. Não há discriminação no dom de seu Amor.
O amor aos inimigos e aos perseguidores é um desafio de Jesus que marcará a diferença entre sua proposta de vida e dos comportamentos de muitos setores da sociedade de sua época e de todos os tempos.
Os méritos de amar somente os mais próximos ficam empobrecidos ante a novidade do amor, inclusive para com aqueles que perseguem ou causam dano. Trata-se de abrir o coração amplamente e dar passagem à autêntica reconciliação.
A grande novidade do projeto cristão sustentado no amor é que tem como referente Deus Pai, que ama infinitamente a todos os seus filhos.
Em seu coração não há lugar para a desigualdade ou o rancor; pelo contrário, seu coração é como o sol que nasce igualmente para todos. Esta característica do Deus cristão não elimina o caminho da conversão; reconfigura-o com os códigos do amor e do perdão, pois somente quem se sente fortemente amado e perdoado é capaz de reproduzir amor e perdão.
Os seres humanos temos hoje à nossa frente o desafio de esvaziar tantos ódios e violências que se acumularam ao longo da história de nossos povos.
Estabelecer um novo modelo de relações será fruto, em especial, de pequenos procedimentos que envolvem a pessoa, a família, a amizade, os grupos de trabalho, as comunidades eclesiais, em experiências comunitárias de amor e em escolas de perdão.
Esse deve ser o caminho mais efetivo para que muitos vejam e creiam no Evangelho.
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