11 Maio - Admiremos a beleza inefável da alma
de Maria, a qual não é senão um maravilhoso quadro, formado por pequenos
pontinhos, todos perfeitos. A beleza de Maria se compõe justamente de tantas
pequenas virtudes, mas todas tão perfeitas que, juntadas em sua formosa alma,
conferem-lhe um atrativo irresistível, um encanto celestial. (S 213). São Jose Marello
A missão do Espírito Santo. - Jo 15,26–16,4a
Naquele tempo disse Jesus aos seus discípulos:
“Quando, porém, vier o Defensor que eu vos enviarei da parte do Pai, o Espírito
da Verdade, que procede do Pai, ele dará testemunho de mim. E vós, também,
dareis testemunho, porque estais comigo desde o começo. Eu vos disse estas
coisas para que vossa fé não fique abalada. Sereis expulsos das sinagogas, e
virá a hora em que todo aquele que vos matar, julgará estar prestando culto a
Deus. Agirão assim por não terem conhecido nem ao Pai, nem a mim. Eu vos falei
assim, para que vos recordeis do que eu disse, quando chegar a hora.”
MEDITAÇÃO
Através de nossa reflexão de hoje podemos
chegar à conclusão de que a tarefa de evangelizar não está isenta de
dificuldades. Consiste em dar testemunho de Jesus no meio do sistema do mundo
injusto, ou o que é igual, em aderir-se a seu estilo de vida. O seguidor de
Jesus não esta só nesta tarefa, pois conta com o Espírito como protetor,
Espírito de Verdade e de Amor.
“Estar com Jesus desde o princípio”
significa aceitar como norma toda a vida de Jesus, sem separar o Jesus
ressuscitado, do Jesus terrestre. Considerar somente o Jesus glorioso é uma
tentação espiritualista que leva a prescindir do compromisso. Jesus os previne
para evitar sua deserção no futuro. Poderia parecer-lhes inexplicável e
incompreensível ver-se combatidos pelas instituições religiosas. Deste modo,
tão duramente reflete o evangelista João a tensão entre a sinagoga e a Igreja,
entre o judaísmo e o cristianismo. Sua situação será extremamente dura, pois a
instituição religiosa considerará que perseguir ao seguidor de Jesus equivale a
prestar culto a Deus; os seguidores de Jesus serão marginalizados pelos que se
chamam representantes de Deus e intérpretes de sua vontade, chegando até a
dar-lhes a morte, crendo com isso dar culto a Deus.
"O Paráclito (Consolador), que vos
enviarei da parte do Pai, o Espírito da verdade, que procede do Pai, dará
testemunho de mim. E vós dareis testemunho, porque estais comigo desde o
começo".
Numa primeira leitura o texto parece conter
alguma ambigüidade. Cristo enviará o Consolador, mas o Consolador será enviado
“da parte do Pai”, o espírito da verdade “que procede do Pai”, afirma Jesus. Na
realidade esta dualidade já estava presente no verso 26 do capítulo anterior.
Em João 14:26 quem envia o Consolador é o Pai; em João 15:26 quem envia o
Consolador é Jesus. Como explicar esta aparente contradição?
Já vimos que o espírito de Cristo é também
o espírito de Deus. Ambos compartilham o mesmo pneuma (espírito). Veja estas
afirmações de Cristo: “Tudo quanto o Pai tem é meu...”; “...para que possais
saber e compreender que o Pai está em mim e eu nele.”; “Não crês tu que eu
estou no Pai, e que o Pai está em mim?”. Estes versos nos dizem que tudo o que
o Pai tem, também pertence ao Filho. Tudo! Inclusive o seu próprio espírito
(pneuma). É por esta razão que Cristo está no Pai e o Pai está no Filho, pois
são um em espírito, ou seja, compartilham o mesmo pneuma. Portanto, não há
contradição entre João 14:26 e João 15:26. Cristo envia o seu pneuma e o Pai
faz o mesmo.
Sem medo de errar, com convicção de que o
Pai e o Filho compartilham do mesmo espírito, reafirmamos que: espírito de Deus
= espírito de Cristo. Como conseqüência, podemos afirmar que quando Deus envia
o seu espírito, Cristo também envia o seu espírito, pois não há diferença entre
espírito de Cristo e espírito de Deus.
Os Doze tinham sido escolhidos por Jesus
para serem seus representantes e revelarem a mensagem do evangelho. O Espírito
Santo iria equipá-los para esta obra. Ele lhes lembraria o que Jesus disse a
eles e os guiaria em toda a verdade de modo que eles pudessem testificar de
Jesus.
Uma das funções do Espírito da Verdade é a
de dar testemunho de Jesus. Sua ação em favor dos discípulos consiste em
convencê-los da veracidade da pessoa e dos ensinamentos do Mestre. O conteúdo
do seu testemunho será o próprio Jesus.
Tal testemunho faz-se perceptível na
própria ação dos discípulos. Pelo fato de o Espírito manter sempre viva no
coração deles a imagem de Jesus, estão em condições de mostrar a todos a
verdade do Filho de Deus, que veio armar sua tenda no meio da humanidade
carente de salvação. A ação do Espírito da Verdade predispõe os discípulos a
enfrentar a perversidade do mundo, sem se intimidarem. Afinal, a missão deles
consistirá em levar a luz de Cristo para quem caminha nas trevas do erro e da
mentira. Move-os a esperança de que a humanidade marcada pelo pecado acolha a
palavra de Jesus para ser salva.
Jesus adverte aos seus que as instituições
religiosas adoram a um deus que aceita como culto a morte do ser humano (e
mais, aproxima-se a hora em que todo aquele que lhes der morte julgue oferecer
culto a Deus). Se esse é seu deus, a instituição religiosa é homicida por
essência. De fato, seus maiores representantes decretaram a morte de Jesus e a
da comunidade, representada por Lázaro.
Jesus liberta os discípulos do respeito às
instituições religiosas. Por trás de sua impressionante fachada esconde-se uma
falsidade, pois não conhecem o Pai, quer dizer, não conhecem a Deus. O deus a
quem oferecem culto não é o verdadeiro, pois não está a favor das pessoas: é a
antítese do que se manifesta em Jesus.
Jesus não facilitou, não pintou o quadro
cor de rosa para conseguir adeptos. Ele foi realista e objetivo, foi
transparente e rigoroso. A verdade em amor acima de tudo. Muitas vezes as
multidões e os dignatários da religião ou do poder político econômico não
gostaram. Mesmo assim Ele não alterou uma vírgula o seu discurso e o
compromisso dos que queriam segui-lo. Falou com propriedade e autoridade porque
Ele sabe do que falou.
Sob o impacto do ódio dos poderosos do
mundo, os discípulos não estarão sós. Jesus, ausentando-se em sua presença
sensível, enviará o Espírito da Verdade. É a continuidade do confronto entre a
vida e a morte, já experienciado por Jesus. Nessa dinâmica de vida e morte,
estará presente o Defensor.
A luz do Espírito do Senhor está sobre nós,
pelo que nos ungiu para evangelizar aos pobres; enviou-nos para proclamar
libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade
os oprimidos. Testemunhar a luz do Espírito da Verdade choca aqueles que, nas
trevas da mentira, fazem seus injustos projetos de dominação e acumulação de
riquezas. Foi o que João ensinou, ao escrever: “Sabemos que permanecemos em
Deus e ele permanece em nós, pois nos deu de seu Espírito”. Ora se pela
participação do Espírito nós nos tornamos participantes da natureza divina
insensato será dizer que o Espírito pertence à natureza criada e não à de
Deus.”.
O testemunho do Espírito supõe do discípulo
total discernimento e docilidade para acolhê-lo, pois ele o recebe em meio a
hostilidades que, muitas vezes, o impedem de captar com clareza a moção do bom
Espírito. Por outro lado, o mau espírito, encarnado nos adversários, busca
inculcar-lhe dúvidas a respeito da pessoa de Jesus, e da credibilidade de suas
palavras. Só com muito discernimento e disposição para deixar-se guiar pelo
Espírito, é possível manter-se fiel a Jesus.
Deus não impõe. Realiza e propõe. Faz o que
não está ao nosso alcance realizar e deixa a cada um de nós o veredicto face às
evidências expressas. É o Seu amor que nos persegue, que contende conosco, que
nos desarma, que pacientemente nos questiona.
Hoje é a própria palavra amor que tem sido
pervertida: Fazer amor é fazer sexo. Deus criou o sexo e, ao contrário do que
se pretende passar, biblicamente não é pecado, nem sequer o fruto proibido ou a
raiz do pecado original. Como tudo o resto, é para ser vivido e expresso dentro
dos valores da fidelidade e do compromisso, ou seja, dentro do valor do amor.
Quem somos nós para lhe dar um conselho?
Mas aceite uma simples sugestão: leia os Evangelhos e peça a Deus que lhe dê
entendimento para compreender o que ali se encontra exposto, mesmo se você tem
algumas dúvidas sérias acerca da Sua existência. Deus compreende o nosso
coração e conhece a sinceridade e honestidade dos que não crendo estão
receptivos às evidências que estão na base da fé.
Olhando para dentro de nossas comunidades,
vemos muitos cristãos medrosos e pouco provocados pelo evangelho. Em outras
palavras: são cristãos que não incomodam o mundo. Não bastasse o desinteresse,
os cristãos ainda não maravilham o mundo, como lemos na 1a leitura desta
celebração. Somos interrogados pela vida: — Por que será que os cristãos do
século XXI são ainda pouco afoitos em testemunhar a fé que receberam no Batismo?
O Século XXI, marcado pela necessidade de
múltiplas mudanças e transformações, requer uma nova atitude perante variados
assuntos que vão desde a comunidade internacional, até ao coração de cada homem
e mulher.
Numa sociedade em que a disparidade das
religiões e dos seus deuses mostram por um lado a incapacidade de o homem
através da sua mente ver Deus e por outro lado a rebeldia do homem em
humildemente não reconhecer a sua necessidade de um revelação que lhe venha de
fora e de cima, que ele não merece mas que tem que receber com gratidão, não
com uma mente fechada, mas averiguadora; precisamos de Alguém que nos mostre
quem Deus é dentro das nossas limitações, mas que simultaneamente as rompa e
nos leva para além do que nós conseguimos por nós mesmos ver e discernir.
Numa sociedade em que os valores, os
direitos, por um lado conseguem reunir consensos, mas por outro lado está
provada a incapacidade coletiva e individual de a eles corresponder
efetivamente, precisamos de Alguém que não se limite ao que merecemos e nos
remeta para uma forma de ser e de estar que dependa da graça (favor imerecido),
em que não recebemos em função dos méritos, das qualidades e capacidades, mas,
todos por igual, face ao amor incondicional.
Cada um encontra o que quer encontrar? E
nós que encontramos o que não procurávamos, e encontramos o que não queríamos
encontrar? Encontramos porque sempre ali esteve, vimos porque vendo não negamos
que víramos, porque ouvindo não dissemos que outros se enganaram e mentiram!
Cremos porque é absurdo deixar de crer. Cremos porque não crer é dizer que a
História mente, que a verdade não existe ou só existe a de não existir. Cremos
porque é impossível negar que a luz brilha. Cremos porque a vida se nos tornou
luminosa, porque é impossível querer voltar ás cavernas, ao silêncio, às
algemas, à escuridão da noite da morte, do acaso, do absurdo, do nada, do sem
sentido. Cremos porque a inteligência a isso nos impele. Cremos porque nos é
impossível não crer.
Cremos na divindade do Espírito Santo,
“presente em nós”, como sendo uma pessoa que retém o mal no mundo incrédulo;
que na pregação do evangelho testifica da verdade do mesmo; que Ele é o poder
operador no novo nascimento; que na hora da conversão Ele entra na vida do
cristão; que Ele sela, batiza, enche, guia, ensina, convence, santifica e ajuda
o crente. Cremos também que o fruto do Espírito é o amor, alegria, paz,
longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio; e
que não as manifestações sensacionais são provas da presença do Espírito Santo.
Por isso, como “templos do Espírito Santo”,
somos convidados a viver segundo este mesmo Espírito. Assim, seguindo a Jesus,
como cristãos, devemos ter uma vida segundo este Espírito, que é justamente o
contrário da vida que o mundo nos oferece. E viver segundo o Espírito é na
verdade viver de conformidade com os critérios e perspectivas de Deus,
obedientes aos ensinamentos de Jesus Cristo.
Oração: Pai, que o testemunho do Espírito cale fundo em
nossos corações e seja acolhido com discernimento e docilidade, de modo a
consolidar nossa fé no Senhor Jesus. Vinde, Espírito Santo! Lavai-nos no Sangue
precioso de Jesus, purificai todo o nosso ser, quebrai toda a dureza dos nossos
corações e destruí todo o ressentimento, mágoa, rancor, egoísmo, maldade,
orgulho, soberba, intolerância para que possamos testemunhar, livremente, a luz
do Espírito da Verdade. Por Cristo, nosso Senhor. Amém.
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