13 - Reze, reze e reze! Não sei recomendar-te outra
coisa, pois sei que o demônio nos
tenta mais do que nunca e nos agride por toda parte. Não há
melhor maneira de vencê-lo. (L 33). São Jose Marello
"Este era verdadeiramente Filho de
Deus!” - Mt 26,14–27,66
[...]. Acima
da cabeça de Jesus puseram o motivo da condenação: “Este é Jesus, o Rei dos
Judeus”. Com ele também crucificaram dois ladrões, um à sua direita e outro, à
esquerda. Os que passavam por ali o insultavam, balançando a cabeça e dizendo:
“Tu que destróis o templo e o reconstróis em três dias, salva-te a ti mesmo! Se
és o Filho de Deus, desce da cruz!” Do mesmo modo zombavam de Jesus os sumos
sacerdotes, junto com os escribas e os anciãos, dizendo: “A outros salvou, a si
mesmo não pode salvar! É Rei de Israel: desça agora da cruz, e acreditaremos
nele. Confiou em Deus; que o livre agora, se é que o ama! Pois ele disse: ‘Eu
sou Filho de Deus’”. Do mesmo modo, também o insultavam os dois ladrões que
foram crucificados com ele. Desde o meio-dia, uma escuridão cobriu toda a terra
até as três horas da tarde. Pelas três da tarde, Jesus deu um forte grito:
“Eli, Eli, lamá sabactâni?”, que quer dizer: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?”
Alguns dos que ali estavam, ouvindo-o disseram: “Ele está chamando por Elias!”
E logo um deles correndo, pegou uma esponja, ensopou-a com vinagre, colocou-a
numa vara e lhe deu de beber. Outros, porém, disseram: “Deixa, vamos ver se
Elias vem salvá-lo!” Então Jesus deu outra vez um forte grito e entregou o
espírito. Nisso, o véu do Santuário rasgou-se de alto a baixo, em duas partes,
a terra tremeu e as pedras se partiram. Os túmulos se abriram e muitos corpos
dos santos falecidos ressuscitaram! Saindo dos túmulos, depois da ressurreição
de Jesus, entraram na Cidade Santa e apareceram a muitas pessoas. O centurião e
os que com ele montavam a guarda junto de Jesus, ao notarem o terremoto e tudo
que havia acontecido, ficaram com muito medo e disseram: “Este era
verdadeiramente Filho de Deus!” [...].
MEDITAÇÃO
A liturgia deste último domingo da
Quaresma convida-nos a contemplar esse Deus que, por amor, desceu ao nosso
encontro, partilhou a nossa humanidade, fez-Se Servo dos homens, deixou-Se
matar para que o egoísmo e o pecado fossem vencidos.
Como antecipação à Semana Santa que começamos,
lemos hoje o relato completo da Paixão e Morte de Jesus segundo o evangelista
Mateus (26,14–27,66). Na Sexta-Feira Santa leremos o relato segundo são João. É
sabido que os quatro evangelistas nos contam este mesmo fato embora não da
mesma forma. Cada um busca dar-lhe sua própria orientação teológica e pastoral,
uma vez que cada evangelho é uma forma de responder às inquietações diferentes
de cada comunidade. Na Semana Santa se faz a memória dos últimos dias do
ministério de Jesus.
O Domingo de Ramos nos introduz na
Semana da Paixão do Senhor. A Liturgia de hoje nos oferece dois evangelhos de
Mateus; um para a bênção dos ramos e outro para a Liturgia da Palavra. A paixão
de Jesus é paradoxalmente – na narração de Mateus – a paixão do Filho do homem,
do Senhor da glória, do Juiz universal. Ele é o Deus-conosco que nos salva pelo
caminho do Servo sofredor, sendo crucificado “como cordeiro conduzido ao
matadouro”.
O Evangelho central da celebração convida-nos a
contemplar a paixão e morte de Jesus que, sendo fiel até o fim, ao projeto do
Pai, detona o "dia do julgamento" e começa a era da ressurreição: é o
momento supremo de uma vida feita dom e serviço, a fim de libertar os homens de
tudo aquilo que gera egoísmo e escravidão. Na cruz, revela-se o amor de Deus –
esse amor que não guarda nada para si, mas que se faz dom total. Aparentemente
morto, algumas pessoas esperam para ver o que vai acontecer... a morte
que deveria trazer tranqüilidade aos poderosos, na verdade provoca um grande
desconforto.
O imenso e impressionante texto da Paixão,
mediante a qual o Rei manso e obediente purifica, santifica e apresenta a Si
mesmo a sua Igreja, tornando-a santa e irrepreensível, sem mancha nem ruga, a
Esposa bela. Nestes momentos decisivos, a Esposa fiel deve seguir o Esposo
passo a passo: a unção para a sepultura em Betânia, a Ceia Primeira (e não
última!), o abismo do Getsémani, onde Cristo, sendo embora o Filho de Deus,
Deus Ele mesmo, treme perante a morte, mas aceita-a, submetendo a sua vontade
humana à Vontade divina, à Vontade do Pai e do Filho e do Espírito Santo, a
prisão "segundo as Escrituras", em que todos o abandonam e fogem (Mt
26, 56) - Jesus fica sozinho: verdadeiro "Resto de Israel" -, os
processos e a condenação (Jesus afirma-se como "o Cristo", "o
Filho de Deus", "o Filho do Homem-que-Vem-na-sua-Glória",
"o Rei"), a entrega à morte de cruz por Pilatos e por Judas, mas na
verdade por Deus: paredídeto: passivo divino!), a coroa de espinhos, Pedro
disposto a morrer com Jesus, mas negando-O, a Cruz Santa e Gloriosa, as três
tentações por parte dos transeuntes, dos chefes dos sacerdotes juntamente com
os escribas e os anciãos, dos ladrões: "salva-te a ti mesmo",
"desce da cruz" (Mt 27, 39-44), a oração do Salmo 21 (todo): começa
"Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?", e termina "esta é
a obra do Senhor"!, a agonia e a Morte precedida do "grande
grito" (Mt 27, 46.49) que indica a Vitória de Deus, a sepultura...
Proclamação da máxima Obra de Deus no mundo, a indizível Economia divina na
vida terrena do Filho de Deus! A proclamação deve seguir-se com a conversão do
coração, e, sobretudo, com o louvor no coração.
A Semana Santa que hoje nós, cristãos,
iniciamos com a comemoração da entrada “triunfal” de Jesus em Jerusalém e sua
aclamação como Messias e rei por parte do povo humilde e simples deveria ser a
ocasião mais propícia para realizar durante toda a semana um ciclo de revisão
dos fundamentos de nossa fé. É ocasião de pensar sobre a maneira pela qual
temos entendido e vivido nosso cristianismo e da renovação de nosso compromisso
que, como fiéis, somos convidados a vivenciar num mundo realmente ávido de um
testemunho e de uma mensagem como a de Jesus.
Isto significa aderir ao Cristo ou seja mudar e
cuidar para não assumirmos a mesma postura daqueles a quem criticamos, e
chamamos de assassinos. É bom lembrar que os mesmos que exaltaram Jesus, também
o condenaram. Mudar significa gritar a Boa Nova da presença de Deus entre nós.
É recusar ou aceitá-lo. Quem não muda e não assume o compromisso batismal é
como aquele que hoje estende o seu manto e grita “Hosana! Hosana!” e que alguns
dias depois, lá está, no meio da multidão e gritando: “Crucifica-o!
Crucifica-o!” O absurdo da humanidade, encarnada no povo eleito, é que toda a
vida se espera a salvação e na hora em que ela aparece, mata-a: Vós acusastes o
Santo e o Justo e exigistes que fosse agraciado para vós um assassino, enquanto
fazíeis morrer o príncipe da vida.
Os valores que marcaram a existência
de Cristo continuam a não ser demasiado apreciados no séc. XXI. De acordo com
os critérios que presidem à construção do nosso mundo, os grandes “ganhadores”
não são os que põem a sua vida ao serviço dos outros, com humildade e
simplicidade, mas são os que enfrentam o mundo com agressividade, com
auto-suficiência e fazem por ser os melhores, mesmo que isso signifique não
olhar a meios para passar à frente dos outros.
Como nos assusta verificar que em nosso mundo
neo-liberal não existam mais líderes capazes de entusiasmar as pessoas. A
mídia se arroga o poder de criar ilusões que entorpecem e somos
"obrigados" a passar parte do nosso tempo de lazer, observando, como
que anestesiados, a vida de pessoas que se submetem, pela fama meteórica, a se
expor ao extremo nos programas chamados "reality shows", além de nos
apresentar seus amigos e familiares que sem qualquer qualificação declarada
passam a tarde ocupando os programas de variedades, discorrendo sobre nada,
como doutores de coisa alguma. Como pode um cristão (obrigado a viver inserido
neste mundo e a ser competitivo) conviver com estes valores?
"Vigiem e rezem, para não caírem
em tentação". A perseverança na oração, pedindo a Jesus a graça de
permanecermos fiéis, é aquilo que nos dará a força de segui-Lo, antes, com
alegria em Jerusalém, em seguida, com decisão e amor até ao Calvário. Lá,
então, saberemos entregar, até o fim, junto com Ele, toda a nossa vida nas mãos
do Pai. Em seguida experimentaremos também a sua Ressurreição!
Os acontecimentos que, nesta semana, vamos
celebrar, garantem-nos que o caminho do dom da vida não é um caminho de
“perdedores” e fracassados: o caminho do dom da vida conduz ao sepulcro vazio
da manhã de Páscoa, à ressurreição. É um caminho que garante a vitória e a vida
plena.
Estamos dispostos, nessa Semana Santa, abrir o
coração para acolher o mistério do infinito amor de Deus, que doa sua vida por
amor a nós? Ele quer um espaço em nosso coração...
Oração: Ó Pai, Deus de
misericórdia e de perdão, olha com piedade os teus filhos culpados de terem
pregado numa cruz o teu amado Filho. Ajuda-nos a descobrir, na morte de Jesus,
um testemunho consumado de sua liberdade, e de fidelidade a ti e ao teu Reino.
Pelo seu sangue derramado na solidão do abandono, lava todas as nossas culpas e
rompe a dureza dos nossos corações, para que, purificados pelas lágrimas do
arrependimento, acolhamos o dom da tua infinita compaixão, que é o único que
nos pode tornar de novo inocentes. Concedei-nos aprender o ensinamento da sua
paixão e ressuscitar com Ele em sua glória. Amém!
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