16 de
dezembro - Marquemos, passo a passo, o nosso progresso espiritual, sem nunca
desanimar com as nossas quedas: ergamo-nos sempre com coragem, retomando novas
forças para prosseguir a caminhada em direção ao Céu. (S 210). São Jose Marello
Leitura do santo Evangelho segundo São Lucas 3,10-18
"Então
o povo perguntava: – O que devemos fazer? Ele respondia: – Quem tiver duas
túnicas dê uma a quem não tem nenhuma, e quem tiver comida reparta com quem não
tem. Alguns cobradores de impostos também chegaram para serem batizados e
perguntaram a João: – Mestre, o que devemos fazer? – Não cobrem mais do que a
lei manda! – respondeu João. Alguns soldados também perguntavam: – E nós, o que
devemos fazer? E João respondia: – Não tomem dinheiro de ninguém, nem pela
força nem por meio de acusações falsas. E se contentem com o salário que
recebem. As esperanças do povo começaram a aumentar, e eles pensavam que talvez
João fosse o Messias. Mas João disse a todos: – Eu batizo vocês com água, mas
está chegando alguém que é mais importante do que eu, e não mereço a honra de
desamarrar as correias das sandálias dele. Ele os batizará com o Espírito Santo
e come fogo. Com a pá que tem na mão, ele vai separar o trigo da palha.
Guardará o trigo no seu depósito, mas queimará a palha no fogo que nunca se
apaga. João anunciava de muitas maneiras diferentes a boa notícia ao povo e
apelava a eles para que mudassem de vida."
Meditação:
Neste 3º
Domingo do Advento, a Igreja nos exorta vivamente a abrir o nosso coração à
alegria. Com efeito, é o domingo conhecido como Gaudete (“alegrai-vos”).
No
Evangelho de hoje, João Batista é apresentado como pregador de conversão e ao
mesmo tempo como mensageiro de alegria.
O seu único
anseio é preparar o povo para acolher a salvação que se faz presente em Jesus
Cristo. O Senhor está perto e, por isso, devemos ouvir a palavra do profeta
Sofonias, que nos anima: “Alegra-te e exulta de todo o coração” (Sf 3,14c).
A passagem de
Lucas nos fala do testemunho de João Batista, o precursor. Sua pregação
impressiona o povo, as pessoas se aproximam dele para perguntar-lhe: “Que
devemos fazer?” (v. 10), é uma prova de que compreenderam a mensagem, percebem
que o batismo de João exige um compromisso.
A resposta
chega em seguida: partilhem o que possuem: vestes, comida, etc (VV. 10-11).
Esta passagem trata da pregação de João Batista, que: “Percorria toda a região
do rio Jordão, pregando um batismo de conversão para o perdão dos pecados”(
v.3)
Os
versículos 10-14, que constam somente em Lucas, demonstram bem a sua teologia e
contexto – não são os líderes religiosos que estão prontos para arrepender-se,
mas o povo comum, e até pessoas que estavam à margem da sociedade, – como
cobradores de impostos e soldados.
Mais
adiante no Evangelho, são estas as pessoas que vão responder positivamente
diante da pregação do próprio Jesus. Escrevendo para as comunidades pelo ano
80-85 d.C., Lucas quer lembrar os cristãos que eles também devam estar abertos
para achar sinceridade e bondade fora das vias “aceitáveis”- como fizeram João
e Jesus!
A frase lapidar
do trecho é a pergunta que os diversos grupos formulam para João: “O que
devemos fazer?” Esta pergunta aparece mais vezes no Terceiro Evangelho, em Lc
10, 25 (na boca dum doutor da Lei) e Lc 18,18 (uma pessoa importante), e também
nos Atos dos Apóstolos: At 2,37 (os judeus depois da pregação do Pedro), At
16,30 (o carcereiro gentio de Filipos), At 22,10 (Saulo, o perseguidor).
Usando este
artifício, Lucas quer salientar que é uma pergunta que tem que ser feito
constantemente durante a nossa caminhada.
Não há
cristão que possa se dispensar de fazê-la sempre, por achar que já sabe a
resposta. É interessante que João, embora uma pessoa de cunho fortemente
ascético, não exige sacrifícios, ou práticas religiosos como jejum e
abstinência.
Ela
enfatiza uma exigência muito mais radical, que atinge o cerne do nosso ser –
uma preocupação com os mais pobres, manifestada na busca de justiça e
solidariedade.
As nossas
Campanhas da Fraternidade seguem esta linha de João – pois muitas vezes é mais
fácil abster duma carne ou duma bebida do que engajar-se na luta por um mundo
melhor. Este trecho traz à tona mais uma vez um dos temas principais do
Evangelho de Lucas – o uso correto dos bens materiais.
No fundo, João
aqui prega antecipadamente o que mais tarde Jesus vai ensinar – a partilha dos
bens com as pessoas que sofrem necessidades, a justiça nos relacionamentos
econômicos e políticos, a conversão que se manifesta numa mudança radical da
vida.
A segunda
parte da passagem insiste que João é inferior a Jesus. João batiza com água
como agente de purificação, mas Jesus usará a força purificadora maior do
Espírito Santo e do fogo. Lucas vai mostrar em Atos 2 – na história de
Pentecostes – como o fogo do Espírito Santo cumpre a sua missão nas pessoas. O
texto termina com a declaração que “João anunciava a Boa Notícia ao povo de
muitos outros modos”(v.18). O que João prega é tão semelhante ao que Jesus
pregará que também merece ser taxado de “Boa Notícia”. A boa notícia da chegada
da misericórdia e da salvação de Deus duma forma gratuita, mas que exige
resposta de cada pessoa.
É a crise
existencial do mundo todo – aceitar ou rejeitar a salvação oferecida gratuitamente
em Jesus. Para Lucas, esta decisão tem que ser renovada sempre, através da
pergunta “o que devemos fazer?”, enquanto continuamos andando “pelo caminho”!
“Que devemos fazer?” É a pergunta que muitos podemos formular hoje. A resposta
de João Batista não é teoria vazia.
É através
de gestos e ações concretas de justiça, respeito, solidariedade e coerência
cristã, como vamos demonstrar nossa vontade de paz, como vamos construindo um
tecido social mais digno de filhos de Deus, como vamos conquistando as mudanças
radicais e profundas que nossa vida e nossa sociedade necessitam.
Para isso é
necessário purificar o coração, deixar-se invadir pelo Espírito de Deus, buscar
a libertação das ataduras do egoísmo e da acomodação, não temer a mudança e
estar dispostos com alegria, com esperança e entusiasmo, a contribuir na
construção de um futuro mais humano, que seja verdadeira expressão do Reino de
Deus, que Jesus nos traz, e assim poder exclamar com alegria: venha a nós teu
Reino, Senhor!
Reflexão Apostólica:
Na semana passada,
nos foram apresentadas algumas metáforas que tinham a ver com a preparação de
um caminho para a chegada do Senhor.
Hoje, três grupos de pessoas perguntam como deve ser feita esta
preparação de maneira concreta, ou seja, o que significa endireitar o caminho,
aplainar vales etc.
Primeiro, vem a pergunta do povo em geral, depois a dos cobradores
de impostos e, finalmente, a dos soldados. “Que devemos fazer?” É a pergunta
insistente das multidões que se dirigem a João.
Elas não querem só ouvir falar da conversão como tal, mas querem
saber concretamente o que deve ser feito. E esta é a pergunta que fazemos
também nós hoje. João responde sem demora.
Tudo o que devemos fazer é o que diz respeito ao nosso comportamento em
relação ao próximo. Como tratamos as pessoas?
A conversão deve se demonstrar através de tal comportamento. A
conversão exige a partilha fraterna e a renúncia a qualquer tipo de injustiça.
De fato, a todos é dirigido o pedido da partilha: “Quem tiver duas túnicas, dê
uma a quem não tem”.
Não é um pedido dirigido só a quem vive na abundância para que doe
algo do que lhe sobra, mas a todos aqueles que têm alguma coisa a mais daquilo
que lhes é necessário. Até mesmo aquela pessoa que só tem duas túnicas, deve
dar uma e se contentar em ter uma só, se o seu próximo não tem nenhuma.
Diante da necessidade do próximo, nós só podemos ter o necessário.
Pois é, mas quantas vezes ouvimos este Evangelho e temos um monte de coisas
ainda em bom estado de conservação e ficamos ano após ano contemplando-o ou até
mesmo nem sabemos onde elas estão: é uma roupa que compramos ou ganhamos e
nunca usamos, é o computador ou celular anterior, ainda funcionando direitinho,
são alimentos que esperamos terminar o prazo de validade pra jogar no lixo, são
livros acadêmicos que já faz um tempão que não o abrimos, sinal de que não
vamos mais precisar deles. Mas o apego quer nos impedir de doar tudo isso e
muito mais a quem necessita.
Experimentem e vejam a dor do desapego e logo em seguida a
satisfação da libertação.
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